Ela é assim. Apesar de não possuir pós mágicos nem varinhas de condão, encerra em si, contudo, uma onda constante que a faz arregaçar as mangas e, movida pela paixão, dá forma ao sonho. E nem as notícias económicas mais austeras lhe enfraquecem o ímpeto de ir mais longe. Até que, como diz, os tempos que vivemos incitam à acção e não à conversão, sem com isto aludir à sua catolicidade que muito preza. Gosto dela assim!
Uma das suas frases favoritas é “o meu algodão não engana: é reciclável”. Vê beleza em quase tudo o que a rodeia, gostando de comida saudável e, simultaneamente, detestando o take-away – então o catering nem é bom falar -, assumindo um respeito quase sagrado pela vida. O chic e as tendências ditadas pelo marketing aborrecem-na, tirando-a do sério, como costuma dizer.
Enganem-se, porém, se pensam que esta forma de estar foi algo de repentino. Não, ela sempre foi assim, explicam-me os amigos. Por exemplo, a decisão que tomou aquando do seu divórcio: mudou de casa e, na hora de repartir os bens, verificou que tinha muito mais do que precisava. Não esteve com meias-medidas e deu imensas coisas - o que deixou muito feliz - a quem, verdadeiramente, necessitava. “Para quê ter quatro cobertores se necessitava só de dois?”, ainda hoje repete. “As coisas são efectivamente apenas coisas”, afirma com desprendimento e um sorriso que me encanta.
Disse-me o outro dia que “o caminho é para ser percorrido, não é destino”. Desconfio que a frase não é da sua autoria, mas gostei e nada lhe disse. E é deste modo, singelo e puro, que me tem iluminado a vida.