Não me considero desprovido de inteligência - antiga designação de burro -, mas também não sou um suprassumo de intelectualidade. Sou aquilo que sou, sem ponto final, e, quase que me atreveria dizer que, se assim foi, tal se deve inteiramente à minha custa. Isto sem desprimor para os meus progenitores, os quais, com escassíssimas posses, me colocaram a estudar. Foi no melhor local? Não, não foi. Foi o possível para eles e mesmo assim com imensos sacrifícios, de tal modo que, por muitos anos que viverei, jamais lhes poderei agradecer. Muitos outros, nas mesmas ou em melhores condições, colocaram os descendentes a trabalhar na agricultura, a servir cimento e tijolos e/ou em outra profissão. Aliás, não menos dignas. Bem pelo contrário.
Acontece, porém, que sei, e todos aqueles que de mais próximo privaram e privam comigo sabem, que aquilo que então se designava por ensino industrial, hoje pomposamente chamado de profissional, não era, para mim, o mais adequado. Todavia, entre um ensino gratuito, a via escolhida, e a colegial, paga a peso de ouro, não havia alternativa.
Se por via desta opção ou por culpa própria existem lacunas no meu percurso académico, o que ressalta é de que existem. A aprendizagem das línguas é uma delas, sem esquecer que as manualidades, caminho que acabei por enveredar, com toda a sinceridade, não é o meu forte.
Adiante. Importa agora registar o que tenho visto e lido muito recentemente. Há quem não resista a assinalar como livros, filmes, documentários e outros textos, escritos sobretudo em inglês, como o que de bom conseguiu reter de 2020, por todos designado como annus horribilis. E não pensem que se trata de académicos de alta estirpe. Não, trata-se, no seu dizer, de homens comuns.
Logo, eu é que sou analfabeto.