Que os tempos que correm são de uma enorme incerteza não é novidade para ninguém e eu, pessoalmente, já o disse e aqui escrevi imensas vezes. Neste contexto a futurologia é cada vez menos procurada, já que as probabilidades de errar são exponenciais.
Presentemente, o principal problema com que se defronta a maioria dos portugueses é o da incapacidade de responder è escalada da verborreia, para não dizer falcatrua, política, o que acarreta - e de que modo (!!!) - a dificuldade em gerir a coisa pública. Assim, é imperativo compreender o sentido das forças que estão a impulsionar a mudança séria e a preparar as soluções para um âmbito selectivo, com exigências específicas de flexibilidade laboral, o que constitui salutarmente o desafio mais importante das actuais e próximas gerações.
Vêm estas palavras a propósito do que se vai passando, hoje em dia, no mundo da política. Senão vejamos:
1. O Tribunal Constitucional (TC) chumbou o regime jurídico da "requalificação de trabalhadores em funções públicas", ao que o governo, de imediato, veio dizer que era uma autêntica catástrofe e que, por isso, para obviar tal medida novos sacrifícios iriam ser pedidos e, mais grave, talvez não estivéssemos livres de um segundo resgate financeiro.
Entretanto, Manuela Ferreira Leite, proeminente economista e política experimentada, afirmou que tal não passava de um bluff, adiantando que o chumbo do TC "não tem nada a ver nem com a necessidade de redução de despesa do próximo ano, nem com o orçamento do próximo ano, nem com a oitava avaliação da troika, não tem a ver com nada do ponto de vista orçamental".
No fundo, a lei estava deliberadamente mal feita com a finalidade de, após ser declarada inconstitucional, abrir caminho à imposição de novos sacrifícios.
2. Por outro lado, o mesmo Tribunal acabou ontem, contra a expectativa da maioria dos portugueses – as sondagens aí estavam a demonstrá-lo -, de viabilizar a candidatura dos dinossauros autárquicos a um quarto mandato, desde que não seja no mesmo concelho, dando permissão à profissionalização da gestão municipal.
Não há como entender este órgão jurisdicional. Que me perdoem a expressão menos erudita, mas mais parece que os senhores juízes que trabalham no Palácio Raton estão numa de “dar uma no cravo outra na ferradura”. Devem ser ainda resquícios de um verão quente, apesar de anteontem ter chovido e as temperaturas baixado quase drasticamente.
Ou se muda a lei ou vamos ver os senhores presidentes de câmara, despudoradamente, pularem de município em município, a cada quatro anos, quais saltitões em dia de calor.
3. Soube-se hoje que Paulo Portas, paladino do patriotismo, ao apresentar a sua declaração de rendimentos ao TC – vira o disco e toca o mesmo – afirmou que possui 80 000 euros no Deutsche Bank, que, como bem sabemos, é um banco genuinamente português. É, assim, que se vê quem confia nas instituições portuguesas e, sobretudo, nas políticas deste governo, do qual, aliás faz parte.