Foi por amor e posterior casamento que António Branquinho, beirão abastado e com gosto pela vida, arrancou Julieta Morais das fragas transmontanas. É um homem com mundo, mas bem agarrado à terra. Nunca lhe deu para sair dali. Melrose é o seu refúgio, explica ele, com a força de um facto natural.
É um mestre em propaganda e publicidade. António diz-nos que a Romaria de S. João de Melrose é a maior de Portugal. É conveniente não discutir, pois é a forma calorosa de nos convidar, pois os melrosenses adoram receber. E vale a pena entrar na festa. Pelo menos uma vez na vida. Só não se recomenda a quem tem fobia a multidões, foguetes e música a rodos.
Quando faz sol, Melrose brilha em luz tão intensa que se confunde com o céu e o rio. Mas isso é só o lado visível. A alma colectiva cintila ainda mais. As raparigas de Melrose dão corpo ao mito, com fama e proveito, de serem as mais belas de Portugal. O exibicionismo, quase insolente, a elas fica-lhes bem. E atraem multidões!
Nos últimos vinte anos, a vila cedeu finalmente ao pedido de namoro do rio. Muros e grades foram derrubadas e os espaços adjacentes devidamente ajardinados. Passear em Melrose é um dever e, então, no Bairro dos Álamos é um exercício indispensável para quem quer conhecer o espírito dos melrosenses. Têm, neste velho bairro, aberto muitas tabernas e restaurantes. Outros ganharam vida nova, como o Refúgio, mais conhecido pela “Tasca do Ti Alberto”.
Já não são apenas os homens do campo que frequentam assiduamente aquele antigo aglomerado habitacional. Locais e visitantes – estes, por vezes, excessivamente – ali se reúnem para saborear uns enchidos, uns queijinhos e outros petiscos de ocasião.
O António, esse continua enamorado pela sua Julieta. Porém, apesar dos setenta e muitos, é incapaz de não virar a cara e arregalar o olho à passagem de uma rapariga bonita. Diz que há-de ser sempre assim e que se Deus lhe deu dois olhos foi para apreciar as coisas belas. E beleza aos montes e por montes tem aquela terra. Depois, acrescenta, a minha cachopa – é assim que trata a mulher – agora já não se incomoda. Sabe que sou cão que ladro mas não mordo. Porém, é incapaz de não acrescentar a palavra "infelizmente"!