A famosa máxima de Ortega y Gasset "o homem é o homem e a sua circunstância" nunca se aplicou tão bem a alguém como a Sócrates. Independentemente de tudo o que se tem dito e redito sobre esta personagem, a verdade é que não lhe faltam seguidores prontos a jurar pela sua inocência, por muito dúbios que sejam os múltiplos casos em que se encontra envolvido.
O homem, nos anos setenta, é engenheiro técnico civil na CM da Covilhã e assina os projectos de uns mamarrachos que, nem de perto nem de longe, viu. E qual o problema? Perguntam, de imediato, os apaniguados. Se fossem a responder, perante a justiça, todos os que neste país fizeram algo semelhante os tribunais não fariam outra coisa.
O homem, mais tarde, tenta terminar a licenciatura na extinta Universidade Independente, o que faz ao domingo (!), com toda uma série de jogadas rocambolescas, levando o Ministério Público (MP) a concluir que aquele grau académico é ilegal, mas não avança (!!) com o pedido de nulidade, uma vez que, sustenta a respectiva a procuradora, tal pode colocar em causa o princípio da confiança e no facto de o antigo ministro da Ciência e do Ensino Superior, Mariana Gago, para salvaguardar os interesses dos alunos, ter sanado todas as eventuais ilegalidades na atribuição dos diplomas daquela instituição, quando a encerrou compulsivamente em Outubro de 2007. Nada de anormal, responderão os seus indefectíveis. José Miguel Relvas também se licenciou de forma nada transparente e está aí para as curvas. Acontece, porém, que por via disso se demitiu e, neste caso, o MP se prepara – e bem, acrescento eu - para lhe cassar o dito canudo.
O homem perde as eleições em 2011 e decide ir, juntamente com os filhos, viver para Paris. Ele para tirar um mestrado na prestigiada Sorbonne, os filhos para concluírem o ensino secundário numa escola internacional, gastando, deste modo, cerca de 1 000 000 de euros (!!!). As contas são dele e dizem respeito a empréstimos feitos na CGD e a dinheiro que a mãe lhe deu. No final deste episódio, tem a desdita, sem sequer corar e com o ar mais humilde do mundo, de perguntar onde é que aprofundar os estudos na capital francesa e os seus filhos aí estudarem num dos colégios mais caros é vida luxuosa. Claro que os seus correligionários, mais uma vez, não vêm qualquer problema e até aplaudem.
O homem vive, de graça, num apartamento em Paris, avaliado em cerca de 4 000 000 de euros, emprestado pelo seu amigo Carlos Santos Silva, o qual também paga férias, a si, aos seus familiares e amigas, envia envelopes cheios de dinheiro, solicitados através de palavras enigmáticas, tais como fotocópias, aquilo de que gosto, milho, de entre muitas outras, e nada de insólito vêm os seus seguidores.
O homem, entretanto, edita um livro que é comprado a mando dos seus amigos, principalmente do citado anteriormente, de modo a subir em flecha ao primeiro lugar dos mais vendidos, e aos seus partidários isto não lhes causa qualquer estranheza.
O homem veste e calça diariamente Giorgio Armani e Hugo Boss, afirmando-se socialista e defensor dos mais desprotegidos, e nenhum dos seus assertores se desmancha a rir quando faz a sua defesa.
É caso para dizer: bendito homem que tal pureza apresenta, contando, para além disso, com tão magnânimo amigo.