Como é bom pertencer ou mesmo, até, pensar que se pertence a uma elite social, cultural e/ou económica! Pouco importam as competências que se devem ter e provar diariamente. Interessa a alguém que não se possua os níveis mínimos de qualidade para exercer esta ou aquela profissão, este ou aquele cargo? Cada vez mais, infelizmente, estou convencido que não. O fundamental é ter um estatuto, mesmo que, por causa de todos esses factores, este seja quase completamente desvalorizado pela sociedade em geral.
Depois, independentemente de possuir ou não os saberes e as condições específicas para ocupar o lugar, é, apenas, conveniente que faça render os atributos (im)pessoais, mesmo que sejam os mais artificiosos possíveis: diplomacia/hipocrisia; dizer uma coisa pela frente/fazer outra por trás; fazer crer que se dá a face/carregando, simultaneamente, na alma, um ódio visceral; afirmar e reafirmar sim/não conforme o vento que passa; mostrar uma cara hoje/amanhã outra, tal como as folhas das árvores em dias de tempestade.
O modo como a maioria dos nossos dirigentes adere à rota do facilitismo mais desembargado, ao mesmo tempo que nos faz embarcar também, é vergonhoso. Pior ainda: é humilhante. Não fazem, não deixam fazer e desdenham de quem faz ou já fez. A ausência de espinha dorsal para dizerem basta aos poderes vigentes, seja aos centrais, aos regionais e, acima de tudo, aos locais, coloca-os numa posição de cócoras e, mais grave, prostra-os constantemente na horizontal. Como é evidente, todos aqueles que, por não terem outra alternativa, dependem destes não-senhores, destes autênticos escravos e servis de causas alheias - os quais assim agem para, eventualmente, continuarem a comer as míseras migalhas que caem da mesa do(s) poder(es) - são os primeiros a serem imolados no altar da incompetência. O que lhes resta, então? Gritar de indignação? Sim e muito alto, apesar de se saber que, de imediato, serão abafados pelos políticos de “terra queimada”? Actos de sublevação? Não acho que tal seja possível, uma vez que somos pessoas cordatas.
Contudo, de uma coisa podemos ter a certeza: os tempos mais próximos serão de justiça. Aguardemos, pois!
E, já agora, onde estão todos aqueles que, em tempos tão próximos, mostravam uma constante indignação, uma revolta - vermelha, sem ser por acaso – e que, por palavras, gestos, atitudes e escritos, por tudo e por nada vociferavam, na maior parte, aliás, sem razão? Estão tão calados! Será por se encontrarem a mamar na teta de toda esta incompetência?