Por vezes, algumas pessoas, isto é, as poucas que costumam pensar, interrogam-se acerca da culpa que tiveram na enorme crise económica, entre outras, que o nosso país atravessa. A minha resposta, invariavelmente, vai para o sim. Como é evidente, os governos não são escolhidos por estrangeiros ou ao acaso. São fruto de escolhas pessoais e, sobretudo, a sua acção governativa é, essencialmente, ditada pela maior ou menor pressão que os mais diferentes sectores da sociedade lhes fazem.
E a certeza absoluta é que tal situação nos conduziu a mais que uma crise económica, obrigou-nos a suportar uma crise política. Não vale a pena disfarçar e enlamear seja quem for. A insistência, ou, como, hoje, as pessoas gostam de lhes chamar, a persistência em práticas contraproducentes, levadas a cabo pelo presente governo, felizmente demissionário, conduziu a maioria das pessoas à desilusão.
Todavia, verdade seja dita, a presente crise política só tem sentido se não atrasar ainda mais o processo de reformas de natureza estrutural, o qual é indispensável para garantir o desenvolvimento sustentado do país e, em consequência, também pelo efeito de arrastamento, vital para o crescimento económico e para o emprego.
Mas, tendo presente a prática governamental do PS, será que devemos estranhar? Penso que não. As mudanças de arquétipo são, frequentemente, associadas, numa fase inicial, a perturbações menores, às quais, a maior parte das vezes por autismo político, não lhes damos importância. Aliás, os principais destinatários são os primeiros responsáveis pelo erro de análise, uma vez que, após constatarem a surpresa provocada pelas alterações, atribuem, quase sempre, as culpas a circunstâncias externas. Depois do primeiro erro, vem o segundo, e atrás deste … o hábito.
O certo é que demorou alguns anos até que se adquirisse consciência plena de que não era possível às famílias e ao país continuar a sustentar o crescimento acelerado do endividamento. Conceder crédito a tudo e a todos para aquisição de tudo, era, como hoje está demonstrado, insustentável, quer em termos de recursos financeiros do sistema bancário nacional, quer em termos de capacidade de endividamento de uma boa parte delas, realidade que nem os sucessivos alargamentos dos prazos de empréstimo conseguiu ultrapassar.
Bem sei que isto não é aceite de bom agrado por uma parte substancial da população, pois, politicamente, não é correcto. Porém, a realidade diz-nos que todos – governantes, empresas, bancos e famílias – demoraram a perceber que a economia pode ser conduzida, distorcida e até “enganada”, durante algum tempo, mas, no fim, sempre prevalecerá a tendência para a justa valorização dos recursos e para a sua afectação mais eficiente.
Tardámos, culpa principal de quem nos governou nestes últimos seis anos, em reconhecer os problemas e demorámos a construir soluções fiáveis, as quais apenas foram possíveis de encontrar com ajuda da troika. Agora, encontradas que foram aquelas – para aplicar de forma obrigatória e, de certo modo, imperiosa -, sobre as quais foi possível estabelecer, a priori, consensos efectivos e alargados na sociedade portuguesa, é o momento para não continuar a esconder, por motivos eleitorais ou outros, a verdade aos portugueses. Bem pelo contrário.
Tendo presente os erros cometidos durante a I República e que conduziram à morte da democracia, ocorrida em 28 de Maio de 1926, e reconhecendo a urgência da implementação das ditas soluções, tem que ser possível que as principais forças políticas façam um esforço para, de imediato, cessarem com demagogias e populismos sem sentido.
Os muitos milhares de portugueses que afincadamente e de um modo honroso trabalham em prol de um país melhor ficariam eternamente gratas.