O meu ponto de vista

Junho 19 2018

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Durante as últimas décadas, os sucessivos governos, mas sobretudo a sociedade, usaram e abusaram dos professores, assim como das respectivas mais-valias, sem se preocuparem com a degradação junto da opinião publicada - p.f., não confundir com opinião publicada. A preservação do património natural/científico/tecnológico, pertencente inequivocamente à docência, foi lançada “às urtigas”. Tempos não muito longínquos, senão mesmo agora, todos os agentes sociais se arvoravam no direito de ser leccionadores de tudo e mais alguma coisa. Mais: o métier de tal era perfeitamente desvalorizado, inclusive pelos próprios. Quem não se recorda de haver instrutores a gabarem-se de somente trabalhar uma dúzia de horas por semana e ter três meses de férias?

Portugal enfrenta, hoje-em-dia, os desafios de um ensino característico de qualquer país subdesenvolvido, por muito que os nossos governantes digam o contrário. A eficácia da resposta pressupõe profundas alterações no estilo de vida e nos modelos de desenvolvimento vigentes, o que implica uma mudança clara de atitudes e a adopção de comportamentos que permitam estabelecer uma relação mais saudável e equilibrada com a sociedade.

Cada um de nós representa uma peça do puzzle e, através de pequenos gestos diários, podemos desempenhar o papel que nos cabe: prevenção e minimização dos riscos quanto ao analfabetismo. Sim, porque nos dias que correm não basta ler e escrever. A interpretação de um simples mapa é uma dificuldade sentida e sinónimo daquele.

Por isso, a presente luta dos professores - apesar de não me tocar monetariamente, uma vez já estar no último escalão – deve ser uma batalha de toda a sociedade, i.e., alunos, pais e restante comunidade. Somente com docentes “presenteados” com um estatuto condigno – condições de trabalho, salário, respeito, força e dedicação – poderá elevar o país mais alto. Alguém tem dúvidas que se queremos ter bons médicos, engenheiros, advogados, gestores, etc., etc., temos que lhes dar mestres de bem consigo próprios e com o mundo que os rodeia?

publicado por Hernani de J. Pereira às 14:05

Fevereiro 15 2011

Assume-se, desde há uns tempos, como uma das primeiras “instituições” onde a aprendizagem, apesar de muito difícil, é totalmente gratuita e onde o sucesso é integralmente garantido. Hoje em dia são imensos os seus membros espalhados pelos quatro cantos desta país à beira mar plantado. Uma adesão que faz com que aquela seja actualmente considerada um perfeito caso de sucesso.

Simples, prática e acessível, esta rede de aprendizagem individual é em tudo diferente a muitas outras. Daí o seu êxito. Fazer parte desta é, na maior parte das vezes, apenas necessário que os outros queiram, ultrapassando de longe o querer individual, o qual, aliás, também existe, mas de modo residual. Depois é só abdicar dos velhos conhecimentos e, sobretudo, rejeitar os novos, não porque, repito, seja opção de cada um mas porque os interesses em jogo – familiares, económicos, pessoais, afectivos, egoístas, entre tantos outros – a isso obrigam.

Não haja dúvidas. Criámos e incentivámos o surgimento de um sistema de aprendizagem quase perfeito. E não se diga que não pode ser de outro modo. Quando não se luta também pelos outros, raramente ou nunca lutamos por nós.

Ora, é precisamente a inserção cada vez mais acutilante neste sistema que servirá de base à sua aprendizagem, até porque os seus protagonistas afirmam que o melhor modo de intuir o seu verdadeiro estado é quando não contam com qualquer ajuda exterior, pois, desta forma, mais colaborantes se tornam.

Os “cursos” aí ministrados são de tal modo bem pensados que cada um tem plena possibilidade de aprender ao seu ritmo. Por exemplo, os cursos iniciais são estruturados para aqueles que, pouco a pouco, começam a ser rejeitados pela família e amigos, permitindo-lhes iniciar a construção das suas próprias paredes, alicerces básicos para o sucesso e condição imprescindível para passarem a níveis mais elevados.

Por outro lado, nos “cursos” intermédios já é possível ao usuário ampliar os seus conhecimentos e dar (des)continuidade aos monólogos e acompanhar incessantemente o “nada e o vazio”, aumentando a intermitência do seu vocabulário, o qual cada vez mais se restringe. Leis da compensação dirão os mais sarcásticos.

Escuso-me a falar dos “cursos” mais avançados, pois quando os utilizadores chegam a este patamar, lamentavelmente, deixam de nos dar o respectivo feedback.

Nestas “comunidades” ninguém ensina nada a ninguém. Todos ou quase todos aprendem por vontade dos outros e, repito mais uma vez, são raros os que, individualmente, querem frequentar tal ensino. Porém, nós, isto é, todos os que posteriormente lamentam e levam a mão à boca, abafando credos mal contidos, somos proponentes e mentores de tal projecto, ajudando a torná-lo muito eficiente.

Mas atenção: se você procura que os outros - os tais velhos, recorda-se? – não tenham contacto com estas aprendizagens e muito menos sintam as consequências práticas de tal, então este sistema não é o ideal. Como é óbvio, estes “cursos” também não se destinam a todos aqueles para os quais pretenda que continuem a possuir habilidades práticas de conversação e de convívio. Está, então, de parabéns porque pensa e age numa óptica que visa continuar a dar confiança a quem tanto lhe deu.

Somente aqueles que nunca experimentaram a solidão, são capazes de afirmar que gostam e necessitam de estar sós. E muito menos acreditem naquele velho adágio que diz “mais vale estar só que mal acompanhado”, pois já lá dizia o grande actor brasileiro, infelizmente já falecido, Paulo Gracindo, que “a única vantagem de estar só é poder ir ao quarto de banho e deixar a porta aberta”.

Sim, bem sei que não deveria falar disto. Todavia, existem dias assim!

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:41

Novembro 15 2010

O que se passa ao nosso redor não pára de nos surpreender. No final deste ano atingiremos a meta de 7 000 000 000 de habitantes neste planeta. E se pensarmos que no final da II Grande Guerra não passávamos de uns “míseros” 2 500 000 000 de pessoas, então a nossa admiração ainda se manifesta de forma mais acutilante. Todavia, apesar do aumento exponencial da população, não resta margem para dúvidas que, se soubéssemos dividir fraternalmente, se fizéssemos contas com o coração, todos teríamos, pelo menos, direito ao acesso de água potável e comida sem grandes constrangimentos.

Por outro lado, se pensarmos bem, ainda há poucas décadas, um nativo europeu nascia e vivia com uma consciência da dimensão de espaço disponível, que abraçava uma área limitada. A noção de dimensão que tinha era pouco mais que a consequência da observação directa do seu meio e daquilo que imaginava através de estudo mais ou menos aturado sobre a informação – aliás, pouco diversa - que lhe chegava

As notícias que se tinham do Mundo eram, essencialmente, disponibilizadas por interpostas interpretações. Raramente por interacção directa, pois os tempos de acesso eram de tal modo extensos, comparados com os que actualmente vivemos, que outra coisa era impossível de imaginar.

Contudo, embora todos estes factos tenham condicionado a forma como então se vivia, e sendo também verdade que as informações eram escassas porque não havia capacidade de recolher rapidamente muita informação e muito menos capacidade para a tratar e enviar em simultâneo, o certo é que solidariedade, a entreajuda, a compreensão e o companheirismo eram muito maiores.

As gerações de hoje podem não compreender a forma como a mobilidade era exígua, como as grandes deslocações se transformavam, maioritariamente, em carácter permanente, mas têm de aceitar que a vida, nessa época, tinha mais encanto. Com isto não quero dizer que a vida de hoje não mereça ser vivida. Com certeza que sim. Todavia, dia após dia, nota-se uma crescente ausência de cooperação, onde o individualismo é acirrado e o egocentrismo tolerado, chegando, muitas vezes, a ser rei e senhor. Por isso, não podemos estranhar quando ouvimos muito boa gente dizer que há que regressar às origens.

Costuma-se dizer que quando começamos a ter saudades do passado é porque temos a percepção de que a idade é já alguma. Acreditem que, felizmente, não é esse o caso e muito menos posso ser acusado de saudosista. Mas, em tempos não muito distantes, o homem, claramente, sentia-se maior porque não se perdia no Mundo, pois a quantidade de informação que necessitava de adquirir e processar era limitada.

O não cumprimento da palavra dada, a desagregação da família, a desconsideração pelos mais velhos e a inexistência de respeito pelo transcendente, levam-me a dizer que, em tempos, a vida era mais fácil.

Mas sejamos optimistas. Amanhã a mudança irá acontecer e alavancará um novo rumo.

publicado por Hernani de J. Pereira às 19:33

Análise do quotidiano com a máxima verticalidade e independência possível.
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