Volto ao tema da nova reforma curricular. Perdão, pois “não é uma reforma curricular, mas uma nova forma de gerir o currículo”, de acordo com as palavras do secretário de Estado da Educação. No fundo, desde logo, trata-se do “emagrecimento dos currículos”, que deverá passar, já em Setembro, pela definição das “aprendizagens essenciais” nas disciplinas do 1.º, 5.º e 7.º ano de escolaridade.
Depois há a registar o regresso da Área Projecto e da Educação para a Cidadania, como já aludi no artigo anterior. “Há quem considere que não compete à escola fazer educação para a cidadania. Que a escola serve para ensinar a ler, escrever e contar. Nós consideramos que todo o desenvolvimento científico e tecnológico que tem ocorrido não chega se não tiver uma base humanista. É para nós evidente que o horário tem de a [Educação para a Cidadania] contemplar”, afirmou o secretário de Estado, João Costa. Isto é lindo e de aplaudir, uma vez trazer de volta os grandes educadores do povo!
Não menos importante é o convite a que todas as escolas possam gerir 25% do currículo, dedicando esse espaço a projectos interdisciplinares e experimentais. Já estou a ver fulano A ou beltrana B a usufruírem destas horas pois os seus horários terão de ser completados. Se pretendem ou gostam de metodologias de projecto? Isso é irrelevante e dos fracos não reza a história!
Por outro lado, é bom não esquecer que João Costa falou também na “possibilidade de semestralizar algumas disciplinas, dobrando a carga horária dessas disciplinas, o que faz com que os professores tenham metade dos alunos, potenciando algum trabalho de diferenciação”. Em suma, parece que aumenta a carga horária das disciplinas mas, no final, diminui. Não acreditam? Então, observem as análises já feitas sobre este campo. Mais areia para os olhos.
Finalmente, com o novo perfil pretende-se, em traços gerais, que concluído o ensino obrigatório o jovem adulto seja “livre, autónomo, responsável e consciente”, capaz de “pensar crítica e autonomamente”, “dotado de literacia cultural, científica e tecnológica que lhe permita analisar e questionar criticamente a realidade” e que “rejeite todas as formas de discriminação e de exclusão social”. E, para rematar, "as competências são determinantes no perfil dos alunos, numa perspectiva de construção colectiva que lhes permitirá apropriarem-se da vida, nas dimensões do belo, da verdade, do bem, do justo e do sustentável, no final de 12 anos de escolaridade obrigatória”. É lindo, poético e fica bem no final deste texto.