O meu ponto de vista

Abril 17 2019

Ultimamente – e não é por acaso – surge amiúde notícias, estudos e ensaios sobre a idade da reforma. Invariavelmente vem à baila a questão da idade. Reformar-se aos sessenta e seis anos e meio é, a médio prazo, insustentável e, por isso, trona-se necessário começar a pensar nos setenta anos. Aliás, há quem defenda que daqui a trinta anos os portugueses terão de trabalhar até aos oitenta. O factor da natalidade, aliado a uma longevidade cada vez maior, a isso vai obrigar.

Bem, se pensar que Miguel Ângelo esculpiu a Pietá Rondanini aos 89 anos, que Ticiano pintou a Batalha de Lepanto aos 95 e a Descida da Cruz aos 97, que Gothe escreveu Fausto aos 83, que Victor Hugo escreveu Torquemada com 83, que Verdi compôs Otelo aos 74 e Falstaff aos 84, então, também eu, com bengala – talvez possa servir também para outro fim - nas aulas e de scooter eléctrica de quatro rodas nos corredores, poderei aos 70 enfrentar os alunos.

publicado por Hernani de J. Pereira às 21:40

Março 24 2017

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Andava meio mundo, isto para ser modesto, a esfregar as mãos de contente. Agora é que vai ser. O people que tem 60 ou mais anos de idade e 40 de desconto vai poder reformar-se sem qualquer penalização. Alguns, os mais crédulos, os que lêem diariamente o Acção Socialista, perdão o Diário de Notícias, só não deitaram foguetes antes da festa por não os terem à mão. Vontade não lhes faltou.

Todavia, os mais precavidos, entre os quais me incluo, sempre disserem que não seria bem assim, que o melhor era esperar para ver, apesar de no seu interior, bem lá no fundo, possuírem uma réstia de esperança, i.e., haver uma vozinha, qual sereia encantada, que lhes sussurrava ao ouvido: talvez seja verdade!

Bem, pelo que se soube, a montanha pariu um rato. Para os que trabalham no sector privado e tenham 60 ou mais anos e cumulativamente 48 ou mais de desconto poderão aposentarem-se com uma pensão igual ao último salário. Quanto aos funcionários públicos continua tudo igual, ou seja, “quartel-general em Abrantes”.

Digo-vos que ando muito comovido com tanta generosidade. Mas nada que me admire. Décadas de ineficiência e um viver à tripa-forra revelam agora um preço. Demasiado alto, mas no futuro ainda será pior. Apostam?

publicado por Hernani de J. Pereira às 19:24

Março 16 2017

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O ministro do Trabalho e da Segurança Social é favorável à eliminação do limite de 70 anos para trabalhar no Estado, de acordo com o Jornal Económico. Claro que tem razão, acrescento eu. Não tenho a menor dúvida que isso, daqui a algum tempo, vai ser uma realidade.

Por vontade daquele e de muitos que o acompanham, a idade da reforma passará, e muito rapidamente, para os setenta e muitos. Já me estou a imaginar a dar aulas todo jovem e catita no alto dos meus 75 anos. Que futuro risonho. De cadeira de rodas, empurrada por um ou outro aluno mais solícito – será que os haverá? - ou eléctrica, é ver quem me apanha.

Antigamente a vida verdadeiramente adulta iniciava-se aos trinta. Agora, dizem que é aos quarenta. Assim sendo, acho muito bem que a velhice apenas comece aos oitenta, quiçá aos noventa.

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:23

Fevereiro 07 2017

Por muito que nos tentem atirar areia para os olhos, não é verdade que saímos da crise. Quanto muito pode ser pós-verdade, como a agora é hábito designar. E continuando em crise, e profunda, nunca se disse tanto em vão, nem tão vazio de sentido. A reforma do Estado, só para citar um exemplo, arrasta-se na agenda política, sucedendo-se conferências, debates televisivos, artigos de imprensa, etc., mas sem se avançar um milímetro que seja.

Subitamente, parece ter-se apagado da memória colectiva que a tutela da administração pública sempre integrou a orgânica do governo, que o crescendo da sua importância a fez passar de direcção-geral a secretaria de Estado e até a ministério. Criara-se comissões, publicaram-se leis e o certo é que pouco ou nada foi feito.

E, contudo, a resolução de pelo menos alguns dos problemas até nem é difícil. Definir, com a maior precisão possível e sem derivas ideológicas, as funções da administração central, regional e local, bem como separar a administração directa da indirecta; estruturar as respectivas organizações; seleccionar as pessoas competentes aos vários níveis - avaliando-as constantemente e de modo assertivo - e exercendo plenamente as competências segundo critérios de meritocracia. Ah, não esquecer de actualizar em permanência todos os passos anteriores. Tanto basta. Ou melhor: basta que neste processo não prevaleçam os critérios políticos, sem esquecer a prevenção e, sobretudo, a punição da corrupção.

O que agora aqui escrevo, verdadeiramente não é uma reforma do Estado, nem era isso que se pretendia. Porém, que é uma pretensa forma de reduzir a factura salarial da função pública não tenho a menor dúvida.

publicado por Hernani de J. Pereira às 13:26

Fevereiro 27 2014

O conceito, já por mim anteriormente abordado, do aproveitamento das pessoas que entram na senioridade é, muitas vezes, analisado num sentido tão lato que perde objectividade. Todavia, quando apenas se pretende observar pelo lado da idade, sem considerar outras variáveis, tais como níveis de formação, de competência, de experiência, profissional e, sobretudo, capacidade de ajustamento e potencial de crescimento, também se cai no lado oposto, i.e., do reducionismo, senão mesmo da negação.

Por exemplo, Fernando Tordo, durante a semana passada, foi capa de jornais e entrevistas em horário nobre da TV apenas porque, aos 65 anos, decidiu ir trabalhar para o Brasil, afirmando “não aceito esta gente, não aceito o que estão a fazer ao meu país, não votei neles e não estou para ser governado por este bando de incompetentes”, fazendo a rábula do emigrante português coitadinho, cujo país não o sabe aproveitar, argumentos que o seu filho – escritor de bem na vida – acabou por exponenciar através de uma carta de fazer chorar as pedras da calçada. Esqueceu-se, todavia, de dizer ao que ia: dirigir o cartaz musical de uma grande casa de diversões nocturnas, com um acordo milionário.

Importa, portanto, nesta estória, o que veio a seguir. E o que veio a seguir jamais Fernando Tordo imaginaria que viesse a público. Aliás, estou perfeitamente convencido que, hoje, caso pudessem, tanto ele como seu filho, pagariam para que todo este enredo de novela barata ficasse no segredo dos deuses e não tivesse chegado ao domínio público.

Vamos aos factos. Fernando Tordo tem auferido rendimentos bem chorudos ao longo dos últimos anos, principalmente entre 2008 e 2011, com contratos de centenas de milhares de euros com câmaras municipais. Porém, como é sabido a crise toca a todos e, ultimamente, as autarquias tem fechado esta torneira. Ora, quem em tempos de vacas gordas não poupou agora, quando elas estão … como estão(!), é evidente que não tem. Culpa do governo? É lógico que não, apesar de ter muitas outras responsabilidades.

Mais grave ainda, foram os espectáculos patrocinados pela ONG, liderada pela sua mulher, no valor de dezenas de milhares de euros, o que, para além de outros problemas, sobressai o da ética. Contudo, sobre este item, para as pessoas de esquerda a ética só se aplica à direita (reacionária e caceteira), já que elas encontram-se acima de qualquer suspeita.

Por fim, alguém tem culpa de que Fernando Tordo tenha enveredado por um percurso musical que não seja do agrado público? Já viram José Cid, Paulo de Carvalho e tantos outros queixarem-se? E imaginem o que seria atribuir uma reforma condigna – na ordem de milhares de euros, claro está – a todos aqueles que não obtêm sucesso na sua carreira, independentemente da sua designação, apenas por insistirem num caminho que o público rejeita?

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:52

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