O meu penúltimo texto, intitulado “Essa é que é essa”, levantou um turbilhão de comentários e interrogações, levando-me, mesmo sem ser meu hábito, a voltar ao assunto de modo a esclarecer alguns pontos.
A primeira constatação obriga a dizer que nos colocamos bem a jeito para nos malharem (e com força), pois quem muito deve e pouco ou nada faz, na prática, para inverter a situação não pode vir depois chorar … lágrimas de crocodilo. Não tivéssemos uma dívida tão grande e queríamos lá saber de agências de notação financeira.
A segunda prende-se com a leitura do relatório da Moody’s. Quantos comentadores – somos todos ou quase – já se deram ao trabalho de o ler? E dos poucos que o leram, quantos o fizeram de forma desapaixonada? Continuamos a discutir os assuntos pela rama, concentrando-nos mais na espuma do que nas ondas propriamente ditas. É que se o lessem veriam que, independentemente da boa gestão governamental que, estou certo, haverá, necessitamos, senão em 2012, pelo menos em 2013 de novo empréstimo internacional. Todavia, o problema crucial não reside somente aí, uma vez que a futura ida ao mercado financeiro, e consequentemente novo acordo, advirá de não conseguirmos honrar os nossos compromissos, entretanto assumidos, servindo, sim, para saldar os anteriores. Ora, isto é uma autêntica bola de neve e de nada vale esconder a cabeça na areia como a avestruz.
Por isso, sabedores que a situação não contém nada de novo, só existem dois caminhos: a mudança radical da nossa forma de ser e estar e uma forte intervenção política da União Europeia, a qual, como dizia Henrique Monteiro no “Expresso” de hoje, tem de deixar de ser um conjunto diversos de interesses e políticas com uma mesma moeda, para passar a ser um interesse comum com uma moeda única.
Em abono da verdade, existe uma terceira via, isto é, a apregoada pelo PC e BE: a saída do euro e, de seguida, da Comunidade Europeia. Porém, estou certo que a esmagadora maioria dos portugueses não advoga esta estratégia, pelo que nem um segundo perderei com esta alternativa.
Já agora, de todos os que bradam - somos a maioria, sem dúvida alguma - contra as citadas agências sabem que o nosso país (governos central e regionais, câmaras e grandes empresas portuguesas) lhes paga e bem(!!!) para que analisem as nossas contas e emitam os respectivos ratings? Aposto que muito poucos. E acham que somos masoquistas? Não, uma vez necessitarmos dos seus pareceres, mesmo quando nos são tão nefastos, como foi o recente caso, pois os mercados internacionais não emprestam nem um cêntimo sem primeiro os observarem (e muito bem). É aquilo que se pode chamar “pescadinha com rabo na boca”. Odiamo-las mas não podemos viver sem elas. É a vida, como dizia o outro.
Valha-nos Passos Coelho, para quem pedimos todas as bênçãos e mais algumas. Isto para nosso bem!