Ontem, em Lisboa, decorreu uma justa homenagem ao ilustre cidadão, militar e político – a ordem é arbitrária - que foi e é o General Ramalho Eanes. O dia não foi escolhido ao acaso. Passavam 38 anos após a operação militar, comandada por aquele, e que colocou um fim ao PREC, repondo, desse modo, a ordem democrática em Portugal.
Como é evidente, as forças ditas de esquerda – PCP, BE e demais (parcas) energias gravitacionais – não se associaram a tal acto. Pudera! Para quem contava instalar, na velha Europa, uma nova Cuba ou uma outra Coreia do Norte e depois viu os seus intentos gorados, não se estranha que, passados quase quatro décadas, ainda continuem completamente ressabiados.
Eanes para além de um digníssimo militar, de um arguto político, foi, antes de mais, um exemplar cidadão, o qual apesar de ter sofrido algum ostracismo – tanto por políticos que lhe sucederam, como pelos media, enfeudados a uma esquerda retrógrada e subserviente dos poderes instalados –, soube sempre ocupar o seu lugar e jamais lhe foi ouvido um queixume e muito menos gritos de revolta. Recusou o lugar de marechal, remeteu-se silêncio e ao estudo, completando o doutoramento, e mesmo quando lhe quiseram dar cerca de um milhão de euros por vencimentos/pensões, cujo pagamento foi sucessivamente protelado para além dos limites da vergonha, rejeitou-o e doou-o a instituições de caridade, afirmando que “se até aí tinha conseguido sobreviver com o parco dinheiro que lhe pagavam, também não precisava, naquele momento, daquela imensa quantia”. Apontem-me, acaso sejam capazes, um outro político capaz de tal gesto e de tamanha integridade.
Pela vida partidária, uma fugaz passagem. A origem do ex-PRD foi prova disso. Partido que nasceu com nobres ideais, de cuja fundação me orgulho de ter pertencido, tendo chegado a dirigir algumas das suas principais estruturas, foi para ele e para muitos de nós, uma aragem de ar fresco e que acabou com alguns amargos de boca. De facto, a sua ascenção fulgurante foi igual à sua rápida deterioração, mercê dos maus elementos que, com laivos de rapidamente subirem na vida, a ele se ligaram e o destruíram. Ainda hoje, passados tantos anos, estou convencido que a maioria das pessoas que, numa segunda fase, se ligou a este extinto partido, o fez com intuitos bem definidos: a sua implosão. É que, e a história não mente, o surgimento do PRD assustou enormemente a classe política então vigente, tanto da direita como da esquerda.
O desígnio desta homenagem não foi, porém, tão inocente como à primeira vista se quer fazer parecer. O intuito era, nestes tempos em que o prestígio dos políticos anda pelas ruas da amargura, o ressurgimento de um novo D. Sebastião. Todavia, Ramalho Eanes, fiel à sua matriz, rejeitou tal desiderato, reafirmando apenas estar disponível, dentro das suas possibilidades, para tentar estabelecer pontes e consensos, o que, diga-se em abono da verdade, já não é pouco.
Por último, confronte-se a postura deste Homem com a de Mário Soares. Num os portugueses confiam e continuam a depositar enormes esperanças. No outro apenas se vê ódio, ressentimento e, pior ainda, incitamento à violência, denotando uma senilidade a precisar de tratamento psiquiátrico, senão mesmo internamento hospitalar.