O meu ponto de vista

Novembro 06 2019

Ninguém tem dúvidas. Coisas existem que a maioria dos portugueses adora. Sem intenções de pontuação há exemplos paradigmáticos: fuga aos impostos/taxas, gabarem-se do que não são ou de algo que jamais imaginaram fazer, queixarem-se, na grande maioria dos casos sem razão, da falta de dinheiro e excesso de trabalho, faltar ao trabalhar sem motivo, e, acima de tudo, “furar” uma fila de gente, i.e., fazendo de todos os outros autênticos totós. Este último, sem sombra para dúvidas, dá-lhe um gozo bem acima da média, algo extraordinário, talvez só comparado a um extremo orgasmo.

Escrevo estas palavras por algo concreto. Anteontem fui, ao lagar da Pena (Cantanhede), fazer o azeite proveniente da azeitona que durante as duas/três semanas anteriores apanhei. Aliás, como todos sabem alguns dias debaixo de chuva, pois não houve alternativa. A entrega estava marcada para as 15h00, pelo que, previdente, cheguei cerca de uma hora antes. Logo após a chegada avisaram-me que havia um atraso à volta de três horas, sem mais explicações, por muito que tenham sido solicitadas. Indagados sobre quem estava à minha frente, responderam-me que a lista não era pública. Logo entendi, e, com toda a certeza, os meus caros leitores também, do porquê. Espero, espero e desespero! Entretanto, eu e muitos outros - muito dos quais falam imenso pela calada, mas à frente encolhem o rabo – começamos a verificar que pessoas chegadas recentemente despejavam a sua azeitona e iam à sua vida com um largo sorriso. Recordem-se das palavras introdutórias deste texto!

Passam-se as aludidas três horas e mais outras e – bem me conhecem – expludo. Digo tudo o que me vai na alma! Alguns ainda me acompanham na justa queixa. Todavia, a maioria cala-se. Resultado, a minha azeitona, das melhores que naquele lagar entrou, se é certo que não rendeu mal, ao que me disseram muitos outros, foi menos que das deles.

Eram mais ou menos 22h00 quando saio do lagar. Chovia que Deus a dava. Em cima do tractor lá fiz o caminho até casa, com o lamento de não ter levado óculos com limpa pára-brisas. Caramba, em determinada altura, não via a ponto dum c… Guiava-me apenas pela lista branca lateral da estrada. Quase à meia-noite entro em casa. Sem comer, limito-me a tomar banho e dormir.

publicado por Hernani de J. Pereira às 13:41

Julho 19 2018

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Passamos muito rapidamente da satisfação para a insatisfação. Contudo, o inverso já não se verifica com tanta rapidez. Aliás, uma parte substancial da sociedade ignora as boas práticas de cidadania: não estamos ordeiramente nas filas de espera, apitamos desalmadamente quando um automobilista não faz o pisca atempadamente, gritamos com quem discorda de nós … Mas tudo isto tem a ver com a nossa cultura de base, com a nossa civilidade e com a capacidade de sermos bons cidadãos.

As pessoas têm, de uma vez para sempre, de acreditar que a mudança comportamental só traz vantagens. A verdade é que todos nós queremos e desejamos viver melhor em sociedade, no seio familiar e no trabalho, condições essenciais para sermos felizes. Porém, a rotina não é uma coisa fácil de gerir e, por isso, deixamo-nos ir.

As pessoas estão sempre à procura de desafios inovadores, novas motivações, projectos arrojados, em suma, procurando a diferença com o ontem. A diferença, no entanto, é um valor intrínseco à personalidade de cada um. Não nos podemos esquecer que à semelhança de tudo o que existe na Natureza, também nós temos uma fase de crescimento, uma fase de maturação e, por fim, uma fase de declínio.

Manter a “chama” viva significa refrescar permanentemente a imagem que idealizamos, colocando atractivos no conceito, sensibilizando-nos e sensibilizando os outros.

publicado por Hernani de J. Pereira às 10:26

Janeiro 27 2017

Deparamo-nos, amiúde - mais vezes que gostariamos -, com situações caricatas e muito tipicamente lusas. Por exemplo, há uma delas que particularmente me irrita: deparar-me com o estacionamento de um carro em segunda ou terceira fila, com os quatro piscas ligados … e os outros que se governem.

Ontem mais um desses casos aconteceu, tendo-se formado uma enorme fila, com buzinadelas e muita impaciência à mistura, como é óbvio. Passados uns minutos, chega a condutora – aqui para nós, que ninguém nos ouve, valeu a pena esperar para ver tanta beleza -, acena com a mão, em jeito de desculpa, entra no carro e parte para a sua vida. E, pronto, aguenta Zé!

Neste compasso de espera deu para pensar na analogia entre este comportamento selvagem que, afinal, até é muito concordante com o procedimento das nossas classes da nobreza, da classe política, do futebol e dos eternos “tachos” públicos.

Se durante o Verão percorrermos a maioria das nossas aldeias e vilas é comum observar o gasto de dezenas ou centenas de milhares de euros nas suas festas anuais e ou em feiras/exposições disto ou daquilo. Os palcos são imponentes, as luzes atravessam os céus à noite, provocando uma espécie de “aurora boreal” ou chuva de estrelas, isto sem falar do barulho que por ser tanto não se dança, nem se consegue ouvir o que os cantores dizem.

Depois chega a altura do Natal e Passagem de Ano, com a azáfama das compras, diluída pelos canais televisivos, os quais repetem incessantemente festas e ceias, que no fundo são todas iguais, não sendo populares e muito menos tradicionais, por muito que digam o contrário.

Neste contexto, falar de desemprego, do aumento da dívida, da morte anunciada do paradigma económico e social - via Trump e não só - parece-nos deprimente. Na verdade, segundo uma amiga minha, são assuntos que só interessam aos “chatos”.

Ora, neste encadeado, o que há de comum nos temas que abordei? Bem, talvez seja desejar ter uma vontade igual à da condutora inusitada, i.e., largar tudo em qualquer lugar e não me preocupar com nada nem com ninguém.

publicado por Hernani de J. Pereira às 19:06

Outubro 10 2016

Ainda hoje, uma vez mais, o referi. Três aspectos existem que são comuns a 99,99 % dos portugueses: falta de dinheiro, excesso de trabalho e inexistência de tempo livre. Por isso peço a todos: por favor não falem destes três sintomas e, sobretudo, do primeiro, uma vez ser catedrático sobre tal e não gostar de falar sobre um assunto com quem não tem tanta experiência quanto este vosso escriba.

Não queira, caro leitor, passar a mensagem de que só os euros sustentam a sua motivação e eliminar à partida as suas oportunidades de continuar uma conversa que, eventualmente, pode ser profícua para todas as partes.

Ninguém muda, conscientemente e por vontade própria, para pior. A menos que se veja numa situação desesperada e seja obrigado a aceitar condições para as quais não está preparado. É, por isso, normal que todas as pessoas que não estão nesta situação procurem um upgrade do seu modo de vida. Assim, a conversa, apesar de não referir explicitamente o dinheiro, pode derivar para a forma de melhorar o seu status económico, versando, por exemplo, sobre a poupança ou rentabilização de recursos/talentos.

Bem sabemos que o dinheiro não traz felicidade, mas é verdade que ajuda e imenso. No fundo, trata-se de algo que, à partida, parece interessar a todos. Todavia, torna-se imensamente redutora e não leva a lado nenhum o queixume mútuo. Ninguém dá nada a ninguém e, como se costuma dizer, não existem almoços grátis. Assim, para não haver perdas de tempo e muitos menos defraudação de expectativas, o conveniente é dedicar o tempo a “como dar a volta por cima?”.

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:55

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