O meu ponto de vista

Maio 07 2012

Num cenário de adversidade - o ensino é um caso paradigmático – a proactividade e o empreendorismo dos professores fazem milagres pelo sucesso da escola. Todavia, nem todos os gestores escolares sabem conduzir os seus quadros neste sentido e tirar o melhor partido da sua motivação e capacidade de empreender.

Mas como alcançar este estado de desenvolvimento dentro da escola, sobretudo em tempos conturbados como são os que hoje vivemos? A resposta assenta mais no incentivo dos docentes a agirem de forma empreendedora, semelhante à dos investidores de risco, do que fomentar um espírito empreendedor entre aqueles. No fundo, trata-se de resolver a velha dicotomia entre o individual e o colectivo.

Como é do conhecimento geral, a escola, nos últimos trinta anos, fruto de uma sovietização que, pouco a pouco, se foi instalando, muitas vezes sem que a maioria dos professores se apercebesse de tal, deu largas ao colectivismo, onde tudo era decidido em grupo, na tentativa de que agisse como um todo, onde a homogeneização máxima era o limite.

Aliás, na mesma senda, e não por mero acaso, a escola, nos últimos anos, desenvolveu um outro conceito - muito do agrado das forças seguidoras de tal doutrina, em que os bens de produção e consumo são igualmente distribuídos por cada membro da sociedade – designado genericamente por “inserção na comunidade”, o qual, como se sabe, deu origem a que todo o “gato-pingado” ache que deve mandar naquela. Veja-se, por exemplo, a partidarização dos conselhos gerais, onde a cor da autarquia é dominante, bem como a entrega a esta dos funcionários e edifícios, com a ingerência e dependência que tal acarreta. E os docentes, se não “abrirem” os olhos, um dia destes, serão também descartados para as câmaras municipais, as quais, na sua maioria, estão ansiosíssimas por tal, como facilmente se descortina com as AEC. Mas os exemplos não ficam por aqui. Poucas são as instituições autárquicas, sociais, culturais e desportivas que não metem o bedelho e arrancam da sala de aula os discentes - independentemente de ser próximo de testes ou exames e de haver um programa curricular para cumprir - para esta jornada, para aquele meeting, entre tantos outros casos, sendo que a larguíssima maioria mais não são que shows off para aparecer na comunicação social, querendo demonstrar, assim, uma realidade que de verdade nada tem, ao mesmo tempo que usufruem de tempo de antena, o que nos dias de hoje, infelizmente, é o que conta.

É claro que existem também professores que embarcam neste tipo de iniciativas e até colaboram, de certo modo, activamente nas mesmas. A apresentação de “evidências” para efeitos de avaliação de desempenho a tal obriga. Contudo, os principais responsáveis são os dirigentes. Enfeudados como estão ao poder local, obrigados diariamente ao beija-mão, a nada se opõem, bem pelo contrário. Como é evidente, quem, no fundo, acaba por sofrer as consequências são os alunos, uma vez que o ensino das matérias curriculares ou não é dado na sua integralidade ou, então, é dado apressadamente, com todos os inconvenientes daí advenientes.

Isto para não falar na excessiva carga burocrática que os professores, a maior parte por culpa das respectivas direcções, estão obrigados. Como dizia, outro dia, um nosso colega, só um documento deveria ser preenchido: a pauta de avaliação. Este tema, porém, ficará para uma outra crónica.

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:53

Maio 02 2012

Quando eu pensava que, com Nuno Crato, o “eduquês” tinha os dias contados, eis que, afinal, a prática demonstra o contrário. Ou o Ministro da Educação (ME) não tem força suficiente para se impor perante a máquina pesadíssima que herdou ou, então, é esta que continua com uma força tal que se impõe àquele. Quero continuar a acreditar que o bom senso e o prazer de ensinar - no sentido literal e integral do termo - hão-de acabar por prevalecer. Mas as dúvidas permanecem.

Vejamos, porém, o que nos diz o Diário da República, do dia 19 de Abril do corrente mês, o qual publicou o Despacho nº 5368/2012:

O Ministério da Educação e Ciência assume como sua missão contribuir para a constituição de uma nova geração interessada e capaz de valorizar o conhecimento e a cultura, motivada para o trabalho, o esforço e o rigor científico. Por entender que tal missão não se fecha nem se esgota nos currículos escolares, o Ministério de Educação e Ciência cria o programa «O Mundo na Escola».

«O Mundo na Escola» dará maior visibilidade e mais fácil acesso às atividades científicas e culturais em curso, valorizando e rentabilizando os melhores recursos; e aproximará a população escolar das instituições e dos profissionais que trabalham no domínio da ciência, das artes e da literatura.

Através de um conjunto de ações, adequadas aos diferentes níveis de ensino, este programa fará chegar a todos conhecimentos, conceitos e obras fundamentais nas várias áreas da ciência e da cultura. Com «O Mundo na Escola» pretende -se criar um clima de divulgação e de partilha de saberes, que contribua para a consolidação de conhecimentos e fomente a curiosidade dos alunos pelo mundo físico e cultural que nos rodeia.

Assim, (…), determino o seguinte:

1 — É criado o programa de formação para a cultura e para as várias áreas do saber nas escolas, denominado «O Mundo na Escola».

2 — O Programa «O Mundo na Escola» versará, na sua fase inicial, sobre Ciência e Tecnologia de uma forma que dinamize a aproximação entre a comunidade científica e a comunidade escolar, valorizando os recursos existentes.

Se isto não é mais do mesmo, então, não sei o que seja. Até poderia perguntar: onde é que eu já li isto?

Bem sei que ainda é cedo para dar uma grande varredela na prática seguida nos últimos anos pelo ME e, não querendo, de modo algum, fazer julgamentos precipitados, não posso, todavia, deixar de dizer o que, na minha modesta opinião, continua mal no reino da “5 de Outubro”. Este tipo de actuação, parecendo igual aos dois consulados anteriores, i.e., recorrendo, de certo modo, à propaganda e ao marketing, preconiza que o “eduquês” ainda é rei e senhor. Espero e faço votos que, na forma e, sobretudo, a nível do conteúdo, o caso mude rapidamente de figura.

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:49

Janeiro 19 2012

Hoje fala-se muito de avaliação e que não é possível aumentar o nível de desempenho de uma instituição, seja ela pública ou privada, sem a ela recorrer. Todavia, também não é possível garantir o sucesso apenas por a mesma existir. É necessário, sobretudo por ser relevante, apostar na diferenciação, sendo que esta, na maior parte das vezes, é mal vista pelos detentores e defensores acérrimos do status quo.

Na escola, em particular, é preciso investir em conhecimento e menos em diversão. A língua materna, a matemática, o inglês, a física, a história, as técnicas, para não falar da filosofia e sociologia, são fundamentais. É preciso, afastar do dia-a-dia escolar a maior parte das viagens de “estudo”, as representações teatrais, os clubes disto e daquilo, o jornalismo de caserna, entre tantas outras (in)actividades extra-curriculares, e apostar no estudo, na investigação e experimentação. Isto porque nada é garantido, como a vida nos ensina, e porque temos de incutir nos nossos discentes, de uma vez para sempre, que muito menos há almoços de graça.

Quando a escola já não consome apenas para suprir necessidades básicas, quando procura novidade e irreverência, quem está na linha da frente deve rodear-se dos profissionais mais qualificados, com experiência no desenvolvimento de estratégias de sucesso, que garantam as condições necessárias para dar o melhor aos seus alunos e, deste modo, enfrentar a concorrência.

Desenganem-se aqueles que pensam que este interlúdio nada tem a ver com a avaliação de desempenho docente aludida anteriormente. Em primeiro lugar, reitero que esta deveria ser tornada pública e só não o é, por simples defesa dos avaliadores, os quais certos que, muitas vezes, erram nas classificações que atribuem, preferem a ocultação da mesma. Olhos que não vêm, coração que não sente, já lá diz o ditado. Em segundo, dando azo ao escrito em textos anteriores, seria excelente e/ou muito bom que os docentes que usufruem das avaliações mais altas – quando, ao acaso, foram atiradas ao ar e caíram dentro do chapéu – estivessem na linha da frente, dessem aulas (enfrentando as turmas mais problemáticas) e, principalmente, se predispusessem a demonstrar aos seus colegas mais “básicos” – leia-se os que apenas conseguiram o bom – como se prepara a escola do futuro, se “aduba” os discentes para fazer face à concorrência do amanhã, uma vez que é sabido que à nossa volta há quem não durma em serviço e está atento às nossas falhas.

publicado por Hernani de J. Pereira às 18:29

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