Aí estão eles, novamente, a provocar o alvoroço do costume. Ainda não há muito deram brado e fizeram sair à rua gente (in)suspeita de dizer publicamente o que quer que fosse. Alguns com razão, é certo, e muitos outros sem ela, proclamando aos quatro ventos toda uma demagogia e verborreia populista digna de figurar nos anais da má conduta e ausência de ética.
Como já suspeitaram, estou a falar dos cortes de 10% nas pensões e reformas previstos para o próximo ano.
Sendo uma realidade indesmentível que os cortes dos funcionários no activo, quer sejam do sector privado ou público, têm sido constantes e de montante bem superior àqueles, manda também a verdade dizer que, por solidariedade e/ou compreensão com a grave situação económica do país, não têm levantado grandes obstáculos à sua aplicação.
Ora, a que propósito é que os pensionistas e reformados, com menor despesa dos trabalhadores no activo – poupança em combustível, alimentação, vestuário, entre outros gastos – não hão-de também contribuir para a saída do atoleiro em que todos nos encontramos? E não me venham com a léria – perdoem-me a expressão chã - de que têm de sustentar filhos e netos, uma vez que os que ainda se encontram a alombar diariamente com o trabalho que executam igualmente têm descendentes e com muito mais encargos. Apenas este exemplo: qual o pensionista que ainda tem filhos a estudar, seja na escola ou na universidade?
Apesar de saber que 80% dos pensionistas e reformados, devido aos seus baixos rendimentos, estarão isentos daqueles cortes, não posso, todavia, calar o meu grito de revolta – não, não estou a exagerar – por ver os magistrados e os militares livres destes. Ah, juntam-se os diplomatas, mas é apenas para compor o ramalhete.
Bem conhecemos os verdadeiros motivos: os magistrados para não impedirem a prossecução de algumas duvidosas medidas governamentais, e quantos aos militares … Bem, aqui é conveniente não enfrentar quem tem as armas. E não nos venham atirar areia para os olhos, pois factos são factos e contra estes não existem argumentos que os possam contrariar. Sempre quero ver se os juízes do Tribunal Constitucional, tão lestos a contrariar a ausência de equidade nos outros, se prontificam a dar o exemplo em causa própria.
Já agora, soube-se que os detentores de subvenções vitalícias, i.e., aquelas que os políticos, de uma forma despudorada, aprovaram para si próprios, também estão isentos daqueles cortes. Fundamento: tais rendimentos não são considerados pensões ou reformas, mas antes um complemento aos rendimentos. Imaginem os nomes que, mentalmente, lhes estou a chamar. Lamento apenas não os poder transcrever aqui. A decência impede-me.