Nos dias que correm, ouvem-se, com alguma angústia, os relatos de solidão que os nossos mais idosos sentem. A morte de alguns destes, pelo mais completo abandono, aí está a despertar as nossas consciências. O esquecimento dos familiares, sejam eles mais ou menos directos, é confrangedor e revela muito dos valores actualmente cultivados pela nossa sociedade.
O respeito cívico pelos mais velhos, a admiração perante o seu saber, o acolhimento da sua palavra, mesmo quando esta é pausada ou até mesmo arrastada, a reverência – sim, e porque não? - perante os cabelos brancos, é algo que todos os dias se perde e, ainda por cima, de modo exponencial. Culpados? Todos sem excepção, começando por nós, os de meia idade, pois na tentativa de agradarmos às gerações mais novas, tudo permitimos. Pais ou educadores que, hoje em dia, gritem ou dêem uma palmada – oh, sacrilégio, dos sacrilégios – são postergados para uma classificação pior que a ralé da ralé.
Por tudo isto, mas também face à recordação dos meus antecessores, infelizmente, já não entre nós, atrevo-me a neste dia especial – Dia de S. Valentim - escrever sobre a sua vivência.
É também uma forma de homenagear todos os namorados que souberam e sabem respeitar a os pais.
A casa, por exemplo, ainda de pé, porém, periclitante, uma vez que a ausência de pessoas é o caminho mais curto para a sua degradação, faz-me reviver os meus tempos de afirmação e de formação do homem que sou hoje.
Era muito mais que um espaço agradável. Era um lugar inolvidável. Desde o início, pensado e executado para facilitar ao máximo a vida dos outros. Aliás, a recepção e o acolhimento destes sempre foi apanágio de bem-estar.
Por se tratar de local com alguma circulação de pessoas, onde se verificava uma grande identificação com o “público”, lamento apenas que, agora, não se criem as condições necessárias para que o contacto continue a desenvolver-se com o cuidado e a calma que merece. Todavia, outros valores, infelizmente, não por mim comandados, se levantam.
Por ali jamais me perdi. Também não admira. Tratava-se e trata-se ainda de de um luxo de quem sabe que estava e, de certo modo, ainda está no lugar certo na hora certa, mesmo que tenha somado etapas atrás de etapas de verdadeiro pioneirismo. O contínuo acompanhamento fez o resto.
Nunca o verdadeiro enfoque foi perdido de vista. Por isso, desde sempre se registou um préstimo junto de quem procurava o início e o fim da jornada, ao mesmo tempo que se proporcionava a implantação de projectos onde as comodidades eram, na medida do possível, garantias de futuro.