Toda a gente sabe, mas a maioria continua a assobiar para o ar, que vivemos uma época caracterizada pelo descartável e pela euforia do momento. O que tivemos ontem já não vale nada nos dias de hoje e muito menos no amanhã. O relevante é o presente.
Aliás, a teoria da pós-verdade aí está a assentar arraiais e a ganhar foros de cidadania, sem se saber como e sobretudo porquê. A procura pela verdade intrínseca, absoluta, aquela que não oferece dúvidas, já pouco ou nada importa. Dizem-se umas atoardas, manifestam-se uns conceitos estranhos, torturam-se dados e, pior ainda, sem necessidade provar o que quer que seja. Desde que não se possa desmentir é verdade, ou melhor pós-verdade.
Veio-me à memória, esta demagogia futurista, a preceito do estado do país e, sobretudo, do seu muito “poucochinho” crescimento económico. Pudera, quando se dá tudo praticamente a todos não há forma de fugir a tal sina. Os funcionários públicos querem maiores ordenados, menor carga horária e reposição de regalias, tudo bem, conceda-se. Os trabalhadores das empresas públicas de transportes anseiam pela renacionalização destas, tudo bem, defira-se. Os enfermeiros, médicos, professores, psicólogos, advogados e outros que tais reivindicam maior número de lugares na administração pública, tudo bem, outorgue-se. Os reformados pretendem ter acessos a maiores e mais baratos cuidados de saúde, bem como aumento das reformas, muitos dos quais pouco ou nada descontaram para as mesmas, assim como outras regalias, tudo bem, atribua-se. Os “lesados” do BES e de outras instituições bancárias solicitam a devolução dos seus depósitos, quando a larga maioria sabia muito bem onde estava a aplicar o seu capital, tudo bem, pague-se. E a lista podia estender-se quase ad infinitum.
Não é por acaso que reputados economistas têm alertado para a factura que um dia destes iremos todos pagar. É que não aprendemos nada com as crises porque passamos. Por exemplo, sabe-se que voltamos a consumir, essencialmente à custa de crédito, como fazíamos antes de solicitar ajuda à troyka. E a consumir principalmente produtos importados. Daí o crescimento ser tão, tão anémico, isto para não voltar a usar a terminologia anterior. Poupança? O que é isso?