A tendência crescente para, a todos os níveis, se passar de um extremo ao outro, i.e., de uma situação onde tudo se paga para a disponibilidade quase gratuita será incomportável e dificilmente produzirá os resultados esperados. Recordo a saúde, o ensino, a justiça e agora os transportes, onde se exige tudo ao preço da chuva, esquecendo que até esta é rara e cada vez mais apetecida.
A primeira vítima será certamente a qualidade, tanto por falta de meios que garantam esta minimamente aceitável, como por estar arreigado a ideia de que tudo o que é grátis não é apreciado.
Indo ao exagero, para uma melhor compreensão, suponhamos que a governança torna todos os seus activos gratuitos. Ora tal, para além de os desvalorizar, hipoteca o futuro a curto prazo e, sobretudo, a médio e a longo. Responder-me-ão que tal se pode contrariar caso se verifiquem fortes e constantes investimentos por parte do Estado, opção que na conjuntura actual parece pouco provável. Não nos podemos esquecer que Mário Centeno não larga “o suculento osso” que é os 0% de défice para o corrente ano, ou mesmo chegar a superavit no próximo.
Face à evidente depreciação de quanto custa os serviços prestados pelo Estado, a propensão será para exigir mais e mais, querendo simultaneamente pagar fiscalmente cada vez menos. Com o ultrapassar, então, o mais que certo estrangulamento. É urgente efectuar a imediata definição política e integrada de objectivos e prioridades. Por outro lado, é também obrigatório exercer uma política pedagógica explicando que é impossível ter tudo e para todos totalmente grátis. Aliás, nem nos regimes colectivistas tal é possível, pois mesmo nestes existem sempre uns que são mais iguais que os outros.