O governo aprovou uma proposta de lei que “estabelece o quadro de transferência de competências para as autarquias locais e para as entidades intermunicipais, concretizando os princípios da subsidiariedade, da descentralização administrativa e da autonomia do poder local”.
Neste âmbito e, sobretudo, no que concerne à Educação, irão ser transferidas para todos os municípios as competências relativas ao pessoal não docente e gestão dos estabelecimentos escolares de todos os graus de ensino. Assim, a experiência iniciada em treze autarquias, em que o ensino secundário não estava contemplado, irá estender-se a todo o país e num campo de acção mais lato.
A referida municipalização do ensino, tantas vezes por mim criticada – ver aqui, ali e acolá, só para citar alguns casos -, irá dar, não tenho a menor dúvida, uma nova e decisiva machadada na autonomia das escolas. Bem sei que a tutela dos docentes – por agora - irá permanecer no Ministério da Educação. Mas esperem e vão ver. Ao governo interessa ter cada vez menos responsabilidades. As autarquias, pelo seu lado, há muito que, de forma clara ou encapotada, desejam exercer o seu poder, na maior parte verdadeiramente autocrático, sobre os professores. Pelo que juntando o útil ao agradável …
E, a talhe de foice, não vos apetece perguntar: onde andam os sindicatos, principalmente a Fenprof? Recordam-se que, em tempos não muito distantes, lançaram uma luta encarniçada contra a aludida experiência, a qual a maioria dos docentes aplaudiu? Então, e agora? Pois é, quando se tem o rabinho entalado na acção governativa ficamos … tolhidos. Isto para não utilizar uma expressão vernácula que não fica bem neste local.
Por último e a quem interessar, deixo a adaptação, efectuada por Martin Niemöller, de um célebre poema de Vladimir Maiakovski
"Quando os nazis levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse".