Os que me conhecem sabem que, apesar de pecador – não o digo por excesso de humildade -, sou crente e, o máximo que me é possível, um cristão praticante. E abro, desde já, um parêntesis para reafirmar que nem eu nem ninguém sabe o que é isso de “não praticante”. Ou se pratica e é-se, ou não se pratica e não se é. Todos sabemos, apesar de alguns, por comodismo ou outro motivo qualquer, afiançarem o contrário, que ao afirmarmo-nos como católicos isso implica, obrigatoriamente, uma prática regular e o uso de preceitos rigorosos. Como em muitas questões, mas principalmente nesta, não há lugar para meio termo.
Por isso, nada há a estranhar que as discussões - saudáveis, entenda-se - aconteçam. Uma das suscitadas ultimamente prende-se com a existência ou não do Limbo. Este lugar, na doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana, que se imagina fora dos limites do Céu, um lugar de pré-anunciada felicidade natural, mas sem a visão beatífica de Deus, não é destino desejado nem de crianças nem de almas justas.
No Limbo que a nossa matriz cristã foi criando, viverão as crianças não-baptizadas e as almas justas que passaram pela terra antes da chegada de Jesus Cristo. Uma e outras impedidas de limpar, pela purificação baptismal, o pecado original com o qual nenhuma alma poderá entrar no Paraíso Celeste.
Para a Igreja, a condenação ao Limbo seria a mais branda de todas, apesar da congregação para a Doutrina da Fé, a pedido do actual Papa, então Cardeal Ratzinger, ter considerado, em 2007, que o Limbo infantil, isto é, o Limbo destinado às crianças não-baptizadas poderá não passar de uma mera hipótese e jamais deverá ser considerado dogma.
Ora, tendo presente estas posições, conjugadas com a leitura das Sagradas Escrituras que, ao longo da vida, tenho feito, bem como a reflexão que faço sobre as mesmas, tenho para mim a certeza de que o Limbo, efectivamente, não existe, não sendo, de modo algum, heresia não acreditar na sua existência. Assim, acredito que as crianças que morrem antes de serem baptizadas vão, tal e qual como os santos e os verdadeiramente arrependidos, directamente para o Céu.
Caso contrário, é a questão do Purgatório, sendo que aqui se verifica a condição e processo de purificação ou castigo temporário em que as almas daqueles que morrem em estado de graça são preparadas para o Reino dos Céus. Por isso, rezamos pelas almas dos nossos entes queridos, com vista a que aqui permaneçam o menos tempo possível.