Os mais atentos ao sistema judicial já o esperavam. Só é novidade para quem não sabe ler nas entrelinhas dos acontecimentos dos últimos anos e pretende não ver a agenda oculta do actual governo. Se a esmagadora maioria dos portugueses concorda que o anterior procurador-geral da república (PGR), Pinto Monteiro, foi um grande amigo do PS e, particularmente, um excelente “camarada” de José Sócrates – recordo o almoço entre ambos antes de este ser preso -, igualmente concilia que a actual PGR, Joana Marques Vidal, se encontra entre os inimigos fidalgais dos socialistas.
A coragem, a frontalidade e, sobretudo, a desligação partidária e a independência face ao pendor governamental, principalmente o facto de se “atrever” a acusar ex-primeiros-ministros (Sócrates, do PS), ex-ministros (Miguel Macedo, do PSD) e banqueiros (p.e., Ricardo Salgado, do BES), entre tantos outros, granjeou a Joana Marques Vidal inimicícias entre os detentores do actual aparelho governativo. E não só! Daí nada a estranhar face às declarações da ministra da Justiça, a qual afirmou hoje que vê com naturalidade a não renovação do mandato da actual PGR, apesar de constitucionalmente tal não estar vedado.
O certo é que elogios não lhe faltam. Desde os funcionários da justiça, passando pelos magistrados do MP e dos juízes, manda a verdade dizer que todos, sem excepção, lhe tecem os maiores encómios.
Para os menos concentrados no vai e vem da justiça alertamos que, de acordo com a Constituição da República Portuguesa e o Estatuto do Ministério Público, a designação da nova PGR se trata de matéria da competência do Presidente da República e do Governo. Assim sendo, aguardo com alguma expectativa o futuro.