Para quem não se resigna, para quem acha que, para além de um direito, é um dever intervir activamente na sociedade, este é um mau momento para se encontrar o quadro perfeito. A conjuntura agreste veio lançar para a indisponibilidade profissionais muito competentes acabando o status quo por ganhar face à ausência de concorrência.
Mas será que, face ao actual momento de enorme crise, cansaço, receio pelo futuro, entre outros motivos, os que se agacham hão-de prevalecer sobre os que, independentemente de cada vez serem em menor número, assumem, contra ventos e marés, as suas responsabilidades? Ou seja, será que basta, em tempos de elevada penúria, ganhar pontos mesmo quando demonstrem incapacidade para desenvolver funções que não vão sequer além das suas competências básicas? Arrepender-se-ão aqueles que pensam que tal postura fará a diferença. No momento actual até poderá ser que sim, mas o futuro encarregar-se-á de os desmentir. Recordo que jamais alguém conseguiu passar, sem se molhar, por entre os pingos da chuva.
Por outro lado, desenganem-se aqueles que pensam que por muito que “percam” metade ou mais dos talentos – dedicação, eficácia, ideias inovadoras, reivindicações e questionações, principalmente estes últimos –, mesmo assim tal é menor que a metade que julgam poder ganhar. Aliás, duas metades só são rigorosamente iguais quando as olhamos no plano teórico, desprezando as alterações que a realidade pode alterar, como, por exemplo, a acomodação.
Tal como não aceitamos que ao pedir uma garrafa no restaurante apenas nos seja servido apenas meia garrafa, ou quando nos calçamos não fazemos apenas num só pé, também neste campo há que jogar com o baralho todo e ir a jogo mesmo que, à primeira vista, tal nos pareça absurdo.