Se coisas existem com que as escolas se deparam e bem dispensavam, nesta altura do ano, é com a questão dos horários-zero. Quem já tem umas dezenas de anos de serviço, sabe que nem sempre foi assim, uma vez que em tempos idos – basta recuar, por exemplo, dez, doze anos – as escolas possuíam uma maior autonomia e, sobretudo, tinham um número de alunos bem superior, chegando, nalgumas, a ser mais do dobro.
Basta atentarmos que, não há muitos anos, eram as escolas a dizer quais os alunos com necessidades educativas especiais (NEE) e quanto isso era e é relevante para a formação de turmas. Por outro lado, o crédito para projectos, clubes e afins era quase ilimitado. Não nos podemos esquecer ainda que cada grupo de recrutamento tinha o seu representante no conselho pedagógico, com as respectivas horas de redução. E tantos eram, meu Deus!
Ora, estes e outros conteúdos deixaram de ser da alçada das escolas, o que, acompanhado pela reorganização curricular, não podia deixar de originar a ausência de componente lectiva para muitos docentes. Numa certa óptica ainda bem, noutra nem sempre se conseguiram os bons resultados esperados, bem pelo contrário.
Se até aqui nada de novo há a assinalar, quando olhamos para o lado pessoal da questão, esta toma dimensões quase dramáticas. Não, não estou a exagerar! Só quem não esteve de um lado e de outro da “barricada” é que poderá a desvalorizar.
Não menos importante, porém, é analisar a temática por outro ângulo. E, como se costuma dizer ultimamente a propósito dos escândalos político-financeiros, gostaria que me explicassem os seguintes factos como fosse uma criança de cinco, seis anos. Como compreender que num ano, num determinado grupo de recrutamento, haja sete ou oito horários-zero e no ano seguinte não exista um sequer? E o que dizer de outros grupos que, se não aumentam, pelo menos mantêm o mesmo número deste tipo de horários? E o porquê da entrega da leccionação de certas disciplinas a docentes de outros níveis de ensino quando noutros a ausência de componente lectiva é flagrante?
Não querem estas minhas palavras afirmar que existe qualquer ilegalidade, mas que todos ganharíamos em ver esta e outras matérias cabalmente esclarecidas é uma verdade inquestionável.
(Continua)