Todos sabemos que a História pode ser escrita e reescrita vezes sem conta e o seu “som”, muda conforme as circunstâncias, sejam elas de lugar ou de modo. O que é incontornável são os factos. Por isso, a História é lida de diversos modos de acordo com a descoberta, omissão ou deformação dos mesmos. Todos nos lembramos da adulteração da “história” através das fotos durante o regime estalinista: o governo soviético apagou algumas figuras que expurgou da sua narrativa, e tomou medidas que incluíam falsificação e alterações de imagens, destruindo filmes, e em casos mais extremos, matando famílias inteiras. Aliás, acusam-se as autoridades da antiga União Soviética, de praticar modificações e adulterações de fotografias com objectivo de propaganda do regime e "reescrever o passado”.
Ora, esta questão da escravatura, que hoje domino os media, não é nova. Surge e ressurge, havendo sempre um traço comum: o reescrever da vida. Não digo que no passado não tenhamos sido esclavagistas e que alguns, para além de lucros extraordinários, muito fizeram sofrer aqueles que, por terem cor de pele diferente, não eram sequer considerados como humanos. Igualmente não nego que haja no Portugal contemporâneo racistas. Há e sempre haverá, infelizmente. Todavia, o racismo não é um conceito unívoco. Eu próprio senti, em tempos longínquos, o racismo negro, i.e., o sentimento nutrido por negros, expressado muitas vezes de forma mais ou menos violenta, de que jamais um branco se deveria aproximar de alguém negro.
Por outro lado, é ou não verdade que a escravatura já existia em África antes desta ter sido “descoberta” pelos europeus? Claro que isto não desculpa a exploração de tal ignomínia, bem pelo contrário, uma vez que deveriam ser os primeiros a pôr cobro à mesma. Mas, isso é a leitura aos olhos de hoje. Tal como não se pode ler a Bíblia literalmente, ou seja, à luz do pensamento do século XXI, também não se deve julgar aqueles à luz da filosofia presente. Mais: daqui a 200 ou 300 anos como seremos julgados, mesmo aqueles que se acham na frente dos mais dignos e justos direitos do homem?
Por último, não vejo ninguém indignar-se e muito menos marchar contra as atrocidades cometidas hoje-em-dia em muitas tribos de Saara e do norte de África, onde se pratica ainda a escravatura.