
De acordo com o divulgado, o Ministério da Educação (ME) vai, no próximo ano lectivo, lançar um programa de professores-tutores para acompanharem fora do horário das aulas crianças com duas ou mais retenções. A medida - cujo custo máximo será de 15 milhões de euros - foi anunciada, no Parlamento, pelo respectivo titular da pasta, durante uma interpelação sobre educação agendada pelo CDS-PP.
Aos jornalistas, no final dos trabalhos, Tiago Brandão Rodrigues assumiu que o novo programa é uma ruptura com os cursos vocacionais do básico, implementados pelo anterior governo, que já não abriram turmas iniciais e serão extintos no final do próximo ano lectivo. Tal como nesses cursos, os alunos encaminhados para estas tutorias terão idades a partir dos 12 anos e duas ou mais retenções. Mas o ministro explicou que, ao contrário desses cursos - que classificou de "infeliz experiência pedagógica" -, as tutorias não implicam "a segregação" dos alunos e sim um "reforço" do acompanhamento que estes recebem, independentemente de estarem integrados em percursos regulares ou alternativos do ensino básico. "Estes alunos poderão ir pela via convencional, ou poderão ir por algum destes rumos. [As tutorias] serão um complemento à sua formação normal no 2.º ou 3.º ciclo", disse.
Ora, quem, como eu, se recorda muito bem dos idos 2009-2011, sabe perfeitamente o valor das aludidas tutorias, as quais, diga-se em abono da verdade, ainda se encontram em vigor, pois a legislação que as suportava não foi revogada. E se as mesmas deixaram de ser sugeridas pelos conselhos de turma e demais estruturas pedagógicas e, por isso, posteriormente não colocadas em prática, é porque se chegou à conclusão que as mesmas eram completamente ineficazes.
Este vosso escriba, à semelhança de muitos outros, sabe de cor e salteado o nome dos discentes que tutoreou, bem como a inutilidade de tantas horas gastas e do sacrifício colocado em jogo. Nessa ordem de ideias, está perfeitamente à vontade para afirmar, com voz grossa que o caracteriza, que tal apoio é uma das maiores falácias que com que o ensino, durante os governos PS, já se prostituiu.
Jamais se encontrará um aluno que ao fim de duas ou três retenções, com tutoria ou outro qualquer tipo de apoio, evolua no sentido pretendido pelos “eduqueses” do ME. Posso reconhecer que, por vezes, aos 12 ou 13 anos será contranatura predestinar o percurso “final” de um aluno. Todavia, aos 14 ou 15 anos é impossível mudar o rumo e, assim sendo, só uma saída pré-profissional, vocacional, ou outra similar – chamem-lhe o que quiser – é aceitável para o aluno, para a família e, sobretudo, para a escola e para a sociedade.