É necessário que aqueles que, ano após ano, obtêm bons proveitos, independentemente do seu desempenho, também exponham queixas e mazelas, denotando um mal-estar, ainda que hipócrita, para que os que, verdadeiramente, se encontram na “mó de baixo”, não possam, de modo algum, guetizarem-se e, desta forma, em conjunto ou individualmente, erguerem-se e rebelarem-se contra aqueles.
Nos primeiros englobo, de entre muitos outros, os estivadores, os trabalhadores dos transportes urbanos de Lisboa e Porto, bem como da CP e TAP, aqueles a quem Vital Moreira designa de “aristocracia operária”, enquanto nos restantes estão os trabalhadores de salário mínimo do interior do país – leia-se tudo o que existe para além daqueles grandes centros urbanos – e sobretudo os desempregados, para os quais, estranhamente ou nem tanto, nos últimos seis meses, não se houve uma palavra deste governo e quejandos da esquerda radical que o apoiam.
A história e a própria psicologia de massas ensina-nos que as aludidas estratégias são muito bem estudadas e colocadas cirurgicamente em marcha. Contudo, aquelas áreas do saber também nos dizem que, mais cedo que tarde, tais tentativas de manipulação de consciências são claramente expostas e aí o “feitiço virar-se-á contra feiticeiro”.