Não sou homem de consensos. Faço algum esforço para isso, mas só muito raramente consigo. Aliás, confesso que acho isso confrangedor e pouco estimulante. Uma maçada mesmo! Assim, há quem goste muito de mim e quem me deteste. Todavia, não por sorte, os primeiros são mais que os segundos.
Se vos disser que adoro ser provocador, no bom sentido, como é óbvio, não vos estou a mentir. E tenho extremos. Ai se os tenho! Todavia, com o avanço inexorável da idade, estes começam a encurtar-se. Pois, dir-me-ão vocês, é a lei da vida. Porém, também sei que envelhecer é estar mais atento aos sinais da vida, aos pormenores. No fundo, a saborear mais e com outra dimensão.
Envelhecer não me assusta. Desde que tenha projectos o sentido para continuar a viver surgirá naturalmente. Agora, amedronta-me pensar numa espécie de velhice, i.e., aquela do género sentado no sofá, a ver televisão, com uma mantinha em cima das pernas.
Graças a Deus ainda tenho muita energia. Porém, quando surgem sintomas que inibem essa energia fico algo contrariado e, sinceramente, lido muito mal com tudo aquilo que me contraria. Para obviar esse estado, muito contribui a minha agricultura, as leituras que faço e, sobretudo, o estar atento aos outros. Sou curioso e, nessa ordem de ideias, procuro entender sempre onde estou e o que ando a fazer. Nem sempre chego às melhores conclusões, mas como dizia alguém “é a vida!”
Não sou rico, mas possuo outras riquezas inestimáveis. Aquilo que já vivi, o que vi, o que li e ouvi são bens perduráveis e que fazem o que sou hoje.
Acusam-me, por vezes, de alguma instabilidade. Primeiro, que venha um santo e, então, que atire a pedra; segundo, a busca pelo equilíbrio é incessante e quer queiramos quer não existirá sempre alguma impermanência. Faz parte do nosso ADN. Uma coisa é certa, a idade deu-me o poder de relativizar as coisas. Conseguir distinguir o que é importante ou não, será sempre a chave para o tal equilíbrio, para a paz …Atenção, porém, que não sou homem de paz, isto no termo vulgar em que que a expressão é usada. Procuro ser um homem em paz comigo, mas sempre muito inquieto.