Se prazeres tenho na vida, há dois que se destacam de forma indelével: a leitura e a escrita. Como é evidente leio mais do que escrevo, apesar de ler, cada vez mais, textos que de escrita só têm o nome. Tendo consciência de que, infelizmente, é o que mais abunda, haja esperanças que um dia …
Como qualquer outro que deixa a sua matriz no papel ou no “ecrã” do computador, desejo que a marca, a pisada indissipável, para além de ficar para sempre registada, contenha utilidade concreta, através de uma funcionalidade distinta, mas sem jamais olvidar a estética e a arquitectura que a palavra deve conter.
Por isso, é constante, apesar de nem sempre o conseguir, a pretensão de desedificar o designado establishment, não receando, de modo algum, romper com o politicamente correcto. Com toda a sinceridade, (re)afirmo que aprecio deveras construir um texto virado do avesso.
Não prescindindo de resguardar invariavelmente a privacidade das fontes ou o carácter mais intimista deste vosso escriba, procuro, porém, oferecer pontos particulares da minha visão, a qual, conforme já, por diversas vezes, referi, não tem pretensão de ser independente, tanto mais que não acredito na existência destes.
Alocando-me, sempre que possível, aos acontecimentos que preocupam a maioria daqueles que se dá ao trabalho de diariamente me ler, procuro fugir da opacidade e do cinzentismo como o Diabo da Cruz. Sendo certo, por incapacidade minha, que não escrevo com a beleza de um arco-íris, também não deixa de ser verdade, que demando com paciência, coragem e entusiasmo persistir nesta nobre tarefa. Paciência para compreender as exigências dos leitores, umas com razão, outras sem fundamento. Coragem em aceitar e enfrentar, quase diariamente, o repto – horas em frente do computador, a alterar e a retocar frases, com avanços e recuos, em suma, o processo normal de alguém que busca a máxima perfeição em tudo. Entusiasmo, sentimento comum a quem escreve com gosto, que indaga em cada palavra, por vezes insegura, encontrar a segurança necessária para continuar.
Tentando desnudar-me do revestimento que, amiúde, me querem colocar, procuro insistentemente a coerência. O que hoje, para mim, é assim, não é assado amanhã. De modo algum aceito tudo, pois se pouco tenho para deixar aos meus vindouros, pelo menos que esse pouco seja de alguém para quem os actos e as palavras têm peso de ouro. Bem sei que está em desuso, mas continuo a ter incessantemente presente que os fins não podem justificar todos os meios.
Cada “escavação” para a divulgação dos factos provoca um acontecimento no espaço envolvente. Todavia, é, bem o sei, desta forma e a partir daqui que todas as áreas se articulam, sendo, por isso, um ponto central da formação do eu e uma forma de estar na vida.