
Sou o último a desmentir que, desde os bancos da escola, existe o ensinamento e, sobretudo, a aprendizagem da solidariedade. Digo solidariedade no singular, uma vez haver variantes, umas dignas outras nem tanto. Todos sabemos que os discentes de uma turma sabedores que alguém cometeu um erro, na esmagadora maioria, senão a totalidade, manifesta solidariedade com o prevaricador e, nesses termos, não o denuncia. Aliás, nessa ordem de ideias, não nos podemos admirar que, mais tarde, alguns desses mesmos quando já adultos, por exemplo, numa questão de um crime, manifestem uma forte solidariedade para a não denúncia mútua.
Todavia, não é essa solidariedade que preconizo e venho defendendo. O grau crescente de exigência para com os outros e nós próprios, vendo nessa exigência não somente um direito, mas também uma obrigação de contributo positivo para a criação de uma sociedade com sucesso é algo que deveria ser inato a cada um, enquanto usuários, trabalhadores, membros de família, mas também enquanto cidadãos contribuintes que têm forçosamente de pedir maior eficácia a todos, sobretudo à classe política.
A mudança substancial no agir quotidiano pela via da qualidade, multiplicando os bons exemplos, os quais infelizmente vão rareando, deveria ser o pão-nosso de cada dia. Finalmente, enquanto pilar desse esforço, como condição necessária, mas não suficiente, para a afirmação de solidariedade do cidadão para o cidadão, importa que todos assumamos um papel claramente mais interventivo de participação activa na sua construção.
Numa antítese do nosso proverbial sebastianismo, e adaptando um célebre discurso do presidente Kennedy, enquanto cidadãos responsáveis “não perguntemos o que a solidariedade pode fazer por nós, mas antes o que podemos fazer pela consolidação da solidariedade em Portugal”.