Há mais de uma década que, de uma forma emergente, muito tenho escrito e falado sobre os erros, as diversas soluções para o sistema educativo e respectivas melhorias nas práticas a adoptar.
Alguns analistas apresentam as virtudes e importância deste ou daquele modelo, outros focam-se no estudo de ferramentas de suporte, outros ainda colocam a tónica numa componente igualmente relevante, ou seja, nas pessoas e, sobretudo, no modelo de governação que obriga a um ensino do eduquês.
À semelhança de outras áreas e linhas de pensamento, existe hoje-em-dia informação disponível nos mais diversos tons: desde os contos de fadas de casos de sucesso até à dissecação quase total, senão mesmo total, dos mais diversos factores que levaram à falência destas iniciativas.
Quero, por isso, partilhar aquilo que tenho observado ao longo do meu percurso por esta área, da simples constatação de factos vividos ao longo dos mais de trinta anos que levo - ocupando todos os cargos da vida de uma escola - de docente.
Ao longo de todo o caminho que o sistema educativo, nas últimas décadas, tem percorrido, os desafios têm sido muitos e variados, essencialmente para aqueles que, de um modo ou de outro, o têm querido acompanhar o mais de perto possível. E, verdade seja dita, é frequente encontrarmos uma forte resistência à mudança e nem sempre as organizações corporativas do sector se encontram à altura das alterações do paradigma dos modelos alternativos.
É sabido que em cada dia aumenta a complexidade da “matéria-prima” – leia-se estudantes – obrigando à adopção de modelos mais sofisticados e à revisão de alguns pressupostos do passado recente. Uma coisa é certa: apesar de algumas iniciativas gloriosas e poucos investimentos frutuosos, o sistema educativo vive há tempo suficiente para apresentar, ano após ano, um número considerável de casos de insucesso.
Os diversos exemplos que, infelizmente, tive o (des)prazer de testemunhar continham a combinação “certa” de uma liderança frouxa, com uma equipa desmotivada e uma visão artificial, originando obrigatoriamente o crescimento dos problemas.
A criação de um modelo activo/estratégico de organização é um caminho a percorrer em várias etapas, um percurso que vai removendo os obstáculos que vão surgindo. Quase poderia dizer que tais modelos são autênticos embaixadores da utilização disciplinada da informação e formação, actuando como veículo principal na disseminação do conhecimento pelas comunidades que servem.
Por outro lado, tenho assistido a iniciativas que, apesar de lideradas com sucesso e em pleno cumprimento das funções, para as quais foram concebidas, se vêm órfãs dos seus dinamizadores por estes não se sentirem devidamente apoiados ou, até, simplesmente arredados. Infelizmente, na maioria dos casos, as soluções estagnaram e deixaram de ser encaradas como uma arma estratégica, passando a ser apenas mais um projecto e/ou uma infra-estrutura a manter.
Dada a velocidade das mudanças a que assistimos, actualmente, no panorama educativo e com as pressões governamentais, regionais e locais a que a Escola é exposta, um modelo deixa rapidamente de criar valor se não for melhorado de forma continuada.
Todavia, não tenhamos ilusões. Num modelo tão abrangente quanto os novos Mega-Agrupamentos, nem a melhor das boas vontades consegue alavancar uma iniciativa sem o suporte de uma equipa adequada e motivada. A experiência e a investigação ensinaram-me que as boas equipas são aquelas que conjugam as mais diversas competências e disciplinas, bem como a heterogeneidade, e nelas se encontram, quase universalmente, as seguintes características:
- Uma liderança com profundo conhecimento dos vários processos/dossiers;
- Docentes capazes de construir as fundações de um sistema, tendo como única certeza a persistência da mudança e do crescimento;
- Recursos humanos com espírito crítico, focados nas soluções e não nos problemas;
- Elementos oriundos das mais diversas áreas da comunidade envolvente, com conhecimento não só do core académico, mas também dos restantes saberes, tais como os sistemas transaccionais – empresas, autarquias, actividades recreativas, culturais e desportivas, entre outras - de forma a proporcionar a integração dos saberes e a eficácia de infra-estruturas;
- Profunda convicção que o sucesso da equipa é deveras mais importante do que o sucesso individual;
- Destemor perante os poderes instituídos, quer internos ou externos, rompendo, se necessário, com a paz podre, qual pântano, vigente.
E se já é raro encontrarmos no nosso tecido escolar equipas gestoras com estas características, ainda é menos frequente depararmos com estas mesmas equipas motivadas e com uma saudável mistura de experiência e ousadia.
No mundo da gestão escolar não existe um modelo único, nem um sistema milagroso que responda cabalmente a todas as necessidades da organização e da comunidade envolvente. Cada solução individual deve ser concebida à luz do objectivo último que se pretende atingir e do perfil de cada utente. Cada uma das abordagens só é válida se tiver como finalidade a criação de valor e, assim sendo, deve ser enquadrada numa solução de gestão única e integrada.
Por outro lado, garantir a sua consistência ao longo do tempo – a parte mais problemática – só é possível com uma visão clara de crescimento ordenado e com a certeza absoluta de que se encontrarão vias para a existência de um investimento continuado.
Concluindo, poder-se-á dizer que o mais importante são os recursos humanos e são estes que, realmente, são a arma diferenciadora de cada organização. Os sistemas operacionais e organizacionais jamais atingirão o patamar da estabilidade sem pessoas satisfeitas. Não sou eu apenas que o digo, pois os mais variados estudos aí estão a comprová-lo. Ter habilidade de criar uma solução sólida, coesa e uma cultura forte de integração é, sem sombra para dúvidas, um factor competitivo e determinante.