Todos ou quase todos temos, ultimamente, abordado a questão da intervenção do Fundo Monetário Internacional no nosso país. E a forma como o temos feito é, sem margem para dúvidas, manifestando o repúdio completo ou, pelo menos, patenteando um modo muito receoso. E, com toda a franqueza, o caso não é para menos. A intervenção daquela Agência iria agravar ainda mais as nossas já míseras condições de sobrevivência.
Entretanto, continuamos a ouvir, e a maioria dos portugueses está convencida disso, que somos diferentes da Grécia e da Irlanda, pelo que o risco de contágio e assunção de medidas semelhantes não se justifica.
Até aqui, eu que não sou analista e muito menos comentador da vida política, quanto muito pessoa atenta e interessada na res publica, contra os factos apresentados por estes, não me atrevo a retorquir.
Todavia, de uma coisa tenho a certeza: para termos um tratamento diferenciado, necessitamos, acima de tudo, de mostrar que não somos “farinha do mesmo saco”. Por isso, uma vez que os actos valem consideravelmente mais que as palavras, a preconização de atitudes e, sobretudo, práticas distintas serão factores a ter em conta.
Não basta dizer que somos diferentes. Temos de o demonstrar e de uma forma inequívoca. Por um lado, é evidente que o nosso sistema bancário/financeiro necessita de uma outra ética e de uma postura mais consentânea com o bem público. A fuga de capitais, o pagamento antecipado de mais-valias bolsistas, de modo a fugir a impostos mais pesados, ou o uso de offshores por tudo ou por nada, mesmo que seja legal, não pode acontecer. Nem tudo o que é legal se deve fazer. Por outro, nós, os cidadãos comuns, parafraseando um grande político norte-americano (JFK), precisamos, diariamente, de nos consciencializar e de nos questionar sobre o que estamos a fazer pelo país, em vez de “gritar” constantemente que este pouco ou nada faz por nós.
Fácil, muito fácil, é reivindicar esta e aquela benesse, este e aquele direito. Reclamar por educação, saúde, justiça, etc., gratuitas, ou, dito por outras palavras, mais e melhor estado social, à semelhança do que existe em qualquer país rico e enormemente produtivo. Difícil, extremamente difícil, é descortinarmos de onde virá o dinheiro para tal. Esquecemos, ou melhor, fazemo-nos esquecidos de que “não existem almoços de graça”. Estou de acordo com Ramiro Marques quando afirma a alternativa é simples: ou mais serviços gratuitos prestados pelo Estado e menos dinheiro no bolso dos portugueses ou menos serviços gratuitos prestados pelo Estado e mais dinheiro no bolso dos portugueses. Eu prefiro a segunda opção. É a única que promove o crescimento da economia e do emprego (http://www.profblog.org/2010/11/uma-agenda-para-educacao-em-tempos-de.html).
Ora, se estivermos bem conscientes de todas estas questões, seremos os primeiros a dar o exemplo e, simultaneamente, exigir bons governantes, os quais, como é óbvio, dirigirão a sua acção em prol de uma sociedade mais justa e solidária.