Ouve-se, hoje-em-dia, imensas vezes que vivemos num admirável mundo novo. Todavia, é conveniente não nos perdermos neste mundo, onde a ciência e o desenvolvimento tecnológico parecem querer abarcar todas as respostas para os problemas sociais, chegando-se, em determinadas ocasiões, a pensar que até irão mesmo colmatar as falhas humanas.
Mais vezes que as desejáveis temos dificuldades em ver quando nos estamos a afastar do essencial, daquilo que faz a diferença através da palavra, do gesto e da consolação, enfim da libertação do Homem. Isto para além daquilo que é o garante da dignidade humana e da celebração do outro à nossa imagem, ou seja, o princípio da caridade no seu sentido mais lato.
Assistimos infelizmente a um menosprezo cultural do papel da caridade como se tratasse de uma palavra incómoda perante o poder das novas tecnologias na resolução dos problemas da humanidade. Não tenho a menor dúvida que a ciência, a investigação e os avanços tecnológicos são expressões maravilhosas de génio humano, da sua capacidade de procurar as melhores soluções para os problemas com que nos deparamos ao longo dos nossos caminhos.
Ora, apesar desta elevação em termos de erudição científica, não nos podemos esquecer de que na base da compreensão do outro está a forma com empatizamos com ele e nos reconhecemos como fazendo parte do projecto comum da família humana. Eis, pois, onde reside a nossa capacidade em contemplar o mistério da caridade. Assim, relembro Tiago (2:14-18): tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.