Até agora os professores flexibilizaram, ou seja, foram, de certo modo, obrigados a dobrar a espinha e ir ao encontro das novas pedagogias/estratégias preconizadas pelo Secretário de Estado da Educação, João Costa, e sua corte – leia-se, de entre outros, Ariana Cosme, a coqueluche do novo eduquês. Uma nota: a flexibilização não tem outros fins que não a facilitação da progressão escolar.
Agora, o governo de António Costa, já que o ME, Tiago Brandão Rodrigues, não conta para nada, quer, de uma vez para sempre, fazer rastejar os professores, obrigando-os a acabar com as retenções até ao 9º ano. Por agora, uma vez ter a certeza que tal medida, mais ano menos ano, se estenderá até ao final do secundário. A defesa de tal medida é feita com recurso à demagogia mais rasteira que já se viu. Por um lado, argumentam que tal medida ira poupar aos cofres públicos cerca de 200 milhões de euros por ano – já ouvi 500 e até 600 milhões -, e, por outro, que para tal bastaria que os professores e as escolas trabalhassem mais e melhor, acompanhando, deste modo, mais amiúde os alunos com dificuldades e em risco de reprovação. Aqui para nós, como se já não fizessem.
Ora, se o primeiro argumento já é, para a uma boa parte dos portugueses, tentador, uma vez acharem que o ensino é um enormíssimo sorvedouro dos dinheiros públicos, o segundo é tipo cereja em cima do bolo, uma vez que, nos últimos anos, se tem feito passar insistentemente a ideia de que os professores são uns privilegiados, i.e., ganham muito bem, não fazem nenhum e, ainda por cima, têm três meses de férias por ano. Por isso, se o ME vai fazer com os professores façam o pino, subam pelas paredes, passem 24 sobre 24 horas a trabalhar com este tipo de alunos, a maioria dos quais não quer aprender e tem raiva a quem queira, há sempre quem os aplauda.
Aliás, o desprimor relativamente à classe docente já vem do tempo de José Sócrates, cuja Ministra da Educação má memória, Maria de Lurdes Rodrigues, numa tentativa de domesticar aquela proclamou que a poderia perder, mas, em compensação, ganharia a opinião pública.
Por fim, não ficaria de bem comigo mesmo se não aludisse ao proferido por David Justino, há cerca de quatro anos, ainda na qualidade de presidente o CNE, o qual defendeu algo idêntico ao que este governo actualmente defende. Como se costuma dizer, no melhor pano cai a nódoa.