... foi assim. Arroz de lingueirão.
Sou um apaixonado pela cozinha clássica. E tal como o Chef Leonard Pereira, também eu digo que “existem muitos ingredientes, muita complexidade, mas é como a música clássica: temos de entender os tempos e os ritmos”. Por isso, faço questão de manter uma ligação íntima à produção local e à terra, de modo a manter uma constante permacultura.
Serei sempre aquele aprendiz de cozinheiro – sim, não me atrevo a arvorar-me a categoria maior – que vai ali à horta ao lado buscar os produtos para confeccionar. Da forma mais simples possível. No fundo falo-vos de uma cozinha mais verde e mais directa. E mais diversificada e espontânea, respeitando os ciclos naturais da vida.
Quem tem a culinária como uma arte, sabe muito bem que é impossível cozinhar tudo de forma igual todos os dias. Por vezes, quando queremos levar a arte a patamares mais elevados, quando queremos caprichar mais, é quando o resultado é mais desastroso.
Se aceitarmos as flutuações dos alimentos ao longo do ano teremos mais possibilidades de êxito. Só com esta visão podemos esperar que quem olha e saboreia o prato diga apenas “isto está mesmo bom”!
Por último, um pensamento que um dia li algures: “quanto mais feliz se é melhor se cozinha”.
Dizermos que ao termos cuidado com a nossa alimentação é o mesmo que estarmos a proporcionar melhor qualidade de vida é algo tão óbvio que quase não vale a pena tecer mais comentários. Na verdade, nos dias de hoje, cada vez mais as pessoas se preocupam em levar uma vida saudável.
Contudo, o ritmo de vida, a falta de prática de actividade física, uma alimentação desequilibrada, o stress, entre outros factores, levam-nos ao caminho da obesidade, celulite, colesterol, diabetes, depressões e tantas outras doenças. E para agravar a questão, a beleza e a estética são presentemente conceitos, que diria, quase ditatoriais.
No entanto, apesar de, hoje-em-dia, pessoalmente ter um cuidado acrescido com a “linha”, como muitos de vós bem sabem, sou um apreciador da boa mesa. O sabor único da nossa cozinha tradicional, acompanhado de um bom vinho, não dispensando, como é lógico, uma bela companhia, fazem desses instantes – podem ser horas – prazeres inolvidáveis. Existem outros, mas esses não vêm, agora, ao caso!
E, sabendo que outras pessoas existem que, num dia ou noutro, não se importam com aqueles ditames, por vezes autênticos traumas, que a sociedade moderna nos impõe, e pensam que também vale a pena “perder” um tempo - por vezes não é pouco - na preparação de um bom prato para depois “ganhar” uns momentos de excelente disposição, saboreando algo digno de um autêntico manjar dos deuses, deixo aqui uma receita que, no p.p. fim-de-semana, tive oportunidade de fazer. A foto ajuda a corroborar o anteriormente exposto. Quanto ao sabor, apenas quando a minha casa vierem.
Levede-se à volta de um quilo de farinha de trigo. Quem não souber fazer, basta comprar em qualquer supermercado.
Entretanto, cortam-se às rodelas duas cebolas e quatro dentes de alho, deitando-se num tacho com o azeite e mexendo até alourarem. Juntam-se as carnes desossadas - frango, porco, vaca e os mais diversos enchidos e fumados - cortadas o mais finamente possível. Pode-se, se assim o entender, adicionar também cogumelos laminados. Deixam-se cozer até estarem macias, ao que se junta, no final, molho de tomate e piri-piri q.b.
Sobre uma superfície dura, de preferência mármore, estende-se ¾ da massa com auxílio do respectivo rolo e depois de a cortar com as medidas do tabuleiro (40 cm x 30cm), cobre-se o fundo e as paredes deste. Dispõe-se por cima o recheio de carnes e cebolas e cobre-se com a restante massa esticada. Puxam-se os lados da massa sobre a parte de cima e dobram-se as pontas unindo a massa para não deixar escapar o recheio. Finalmente, pincele-se toda a superfície da bola com azeite e leve-se a cozer em forno bem quente, de preferência a lenha como foi o caso.
Esta bola deve ficar muito baixa, não devendo atingir mais do que 3 cm de altura.