O meu ponto de vista

Março 31 2014

A noite passada tive um sonho. Um sonho em que notava claramente a capacidade de as empresas e do Estado oferecerem salários mais elevados. E o sonho continuava com as empresas – eram essencialmente estas, uma vez acreditar no espírito regenerador da iniciativa privada, tendo o Estado apenas o papel de regulador – a absorver os muitos profissionais que, de outro modo, estariam a engrossar os números do desemprego.

Feliz com a situação, observei embevecido que o empobrecimento da população, registado nos últimos anos, estava a decrescer a excelente ritmo, bem como o êxodo dos talentos, aqui formados, estava exponencialmente a diminuir, evitando que procurassem projectos de vida em países estrangeiros onde tinham acesso a melhores condições. Melhor: notava-se, até, um certo retorno às origens, para contento dos que partiram e das famílias que por cá tinham ficado.

Passando a outro patamar, o sonho transportou-me para novos e aliciantes desafios: estava-se, finalmente, a cumprir os objectivos estratégicos e orçamentais do país, i.e., não gastando mais do que aquilo que se produzia. Mais: tudo apontava para um crescendo de superavit de tal modo que se estava a pagar a enorme dívida acumulada de uma forma muito consistente.

E a motivação dos colaboradores? Então, dessa nem é bom falar! O incentivo era tal que estes preocupavam-se seriamente com a sua produtividade, procurando formação em todas as áreas, sobretudo ao nível das hard e soft skills, o que causava admiração a quem nos visitava – o caso também não era para menos(!) -, tornando o país um verdadeiro case study.

Como é evidente, face a panorama tão risonho, os tempos livres, os programas de saúde e os níveis educacionais subiram em flecha, fazendo do capital humano o principal activo do país.

De repente, não sei se pelo frio, se pela chuva, que voltaram em força, eis que acordo e deparo-me com um quase, senão mesmo, pesadelo. A notícia de novos cortes nos salários e nas pensões fez-me acordar e a dizer, para comigo, que já nem sonhar se pode.

publicado por Hernani de J. Pereira às 19:38

Fevereiro 26 2014

Apesar de nos parecer o contrário, o Inverno é também tempo de mudança. Já na sua recta final, começam a surgir as primeiras flores, as mimosas mostram todo o seu amarelo esplendoroso e nos dias em que o sol brilha – reconheço que têm sido poucos – nota-se um novo perfume no ar. A terra exala um outro aroma e espera ansiosamente por renovadas culturas.

A evolução da estação não é fortuita. Afinal, esta quadra, marcada por chuvas e ventos fortes, é necessária e vem reclamar ao homem o que realmente é seu por direito divino, isto para quem é crente.

É chegado o momento para afinar estratégias. Os dias de bom tempo estão para chegar pelo que há que preparar atempadamente o que se fazer com esses dias, especialmente aqueles que da terra retiram o pão-nosso de cada dia.

Todavia, não é somente o sector agrícola que terá de se preocupar com novas e arrojadas estratégias. Os políticos – falo sobretudo daqueles que compõem o designado arco do poder, i.e., representam cerca de 85% da população – têm obrigatoriamente de analisar, decidir e, principalmente, explicar aos portugueses, sem delongas, repito, sem mais delongas, como vai ser o pós-troyka e não deixar para depois das eleições europeias esta temática. Bem sei que eleitoralmente é mais favorável estar mudo e quedo. Mas não é isso que se exige a políticos que se dizem responsáveis e andam com as palavras “interesse de Portugal” constantemente na boca. É sua obrigação esclarecer, não deixando qualquer margem para dúvidas, se seremos ou não sujeitos a novos cortes.

E atenção: dispenso aumentos de rendimentos, seja por via de salário ou descida de impostos, uma vez ter plena consciência da enorme fragilidade da nossa economia, apesar das ténues luzes que começam a brilhar. Mas se não quero mais dinheiro, igualmente rejeito liminarmente novos sacrifícios, os quais maioritariamente recaem sobre os mesmos de sempre.

publicado por Hernani de J. Pereira às 19:26

Outubro 17 2013

Não há como dar a volta. A economia, por via do défice e consequentes medidas de austeridade, sem esquecer os famigerados cortes, tomou conta da cavaqueira dos portugueses, a qual, por desconhecimento, má-fé ou demagogia, na maior das vezes, não passa de um género comumente designado como conversas de café.

O aumento da carga fiscal, mesmo que encapotado, previsto na proposta de Orçamento de Estado (OE) para 2014 terá como consequência um inevitável e dramático aumento da conflitualidade social. Conforme foi delineado, este OE aposta, em grande parte, nos cortes do lado da despesa para atingir um défice público de 4% do PIB ou seja, poupando cerca de 4,8 mil milhões de euros. Este valor será alcançado entre novas medidas e as de caráter extraordinário que já estão a ser aplicadas este ano e que irão manter-se, como a Contribuição Extraordinária de Solidariedade, com cortes progressivos nas pensões acima de 1350 euros que vão dos 3,5% aos 40%, e a sobretaxa adicional de 3,5% no IRS.

Como é lógico, os custos fiscais aumentarão substancialmente e a procura interna diminuirá numa considerável proporção. Será injusto, na maioria dos caos, e não sabemos se será sustentável.

Outra alternativa – sim, porque existe sempre uma alternativa - para a economia seria, não tenhamos ilusões, reduzir o número de funcionários públicos e cortar de forma acentuada reformas e pensões, que perfazem a maior fatia das despesas. Contudo, seria um caminho de grande insensibilidade social cujas consequências ninguém está para arcar. Por isso, a incógnita do falhanço persiste e o segundo resgate é algo que não se pode descartar. Bem pelo contrário.

Perante isto qual será o lado da sensatez? Parece óbvio que o caminho passa por assegurar credibilidade, cumprindo os nossos deveres. Tudo o que seja entrar em ruptura clara com o plano internacional de ajuda financeira – abro um parênteses para dizer que Mário Soares está completamente senil quando diz que não devemos pagar a nossa dívida – é seguir a via da irresponsabilidade e da perda de capacidade negocial.

Sós é que não, pois já bastou quase cinquenta anos de “orgulhosamente sós”. Primeiro, é necessário tudo fazer para cumprir os compromissos. Depois, sem alaridos, com descrição e força de quem estes honra, partindo de um patamar de responsabilidade, ir renegociando na medida do possível e quando for possível.

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:32

Outubro 10 2013

Esta questão de cortes nos rendimentos salariais ou das pensões, devido às medidas impostas pela troika – leia-se nossos credores –, tem levantado e continuará a levantar uma imensa polémica. A não ser os apologistas de quanto pior melhor, i.e., os que advogam uma política de terra queimada, poucos ou nenhuns portugueses acham que não se devem fazer cortes.

O grande problema é saber onde e/ou como. Já aqui referi, bem como noutros locais, por diversas vezes, que estando a larga maioria dos portugueses de acordo com as medidas de austeridade, também não deixa de ser verdade que são muito poucos os que admitem cortes no seu “quintal”.

Quando confrontados com os aludidos cortes, revoltam-se, indignam-se até limite, chegando ao insulto, senão mesmo à violência. E se lhes pedimos alternativas, ou adiantam que os cortes devem ocorrer noutros lados, esquecendo-se de que nesses locais também existem pessoas que pensam o mesmo, ou, ainda mais grave, entram por uma deriva demagógica.

A deriva demagógica, cujo significado, segundo o dicionário, não passa de um abuso da democracia, ou seja o discurso ou acção que visa manipular as paixões e os sentimentos do eleitorado para conquista fácil de poder político, leva-os a dizer “que a dívida não é para pagar, que os ricos devem pagar a crise, que o sistema financeiro e os grandes grupos capitalistas devem assumir tais custos, que os governantes não devem ter uma frota automóvel ao seu dispor e muito menos motoristas, secretárias, assessores e especialistas”, entre tantos outros dislates.

Uns, por ignorância, usam e abusam desta forma baixa de fazer política, uma vez não saberem que mesmo que os governantes ganhassem o ordenado mínimo, andassem de transportes públicos e fizessem, eles próprios, o trabalho administrativo, isso nada adiantaria em termos de deficit público, outros, apesar de saberem bem daquilo que falam, preferem esconder a verdade dos números de modo a agitarem a tirania das facções populares.

Agora, o que eu queria mesmo é que, ao não aceitarem estas medidas, me dessem uma alternativa credível, exequível e sem falácias.

publicado por Hernani de J. Pereira às 21:15

Outubro 07 2013

Novas medidas de austeridade são anunciadas. Nada que não estivéssemos à espera. Era só necessário que as eleições autárquicas se realizassem para que o anúncio surgisse à luz do dia. Às pinguinhas, como convém, para não assustar a “maralha”.

E o que salta à vista de todos resume-se em três pontos: escassa planificação, má comunicação e, sobretudo, falta de união.

O governo vai apresentando medidas como sendo as únicas com pendor salvífico. Até aqui tudo bem, pois, na ausência de melhores ideias, há que acreditar no que se propõe. Falta explicar, porém, o porquê das decisões, o contexto da aplicação e como aquelas contribuirão para a retoma.

Aos portugueses é pedido insistentemente que suportem o aumento de impostos, mas não lhes é apresentado os benefícios que, a longo prazo, advirão de tais sacrifícios. As medidas têm sido pouco explicadas, provocando o sentimento de que as decisões não têm por base um carácter construtivo, ao mesmo tempo que são penalizadoras para os cidadãos, uma vez que o desconhecimento sobre os benefícios inibe a acção.

Por outro lado, não existe um forte sentido do dever na sociedade civil. Jamais conseguiremos ultrapassar os desafios sem atingir um consenso sobre como e quando agir para impulsionar a economia. Veja-se, por exemplo, o caso da Irlanda: um país também intervencionado pela troika e sujeito igualmente a um duríssimos pacote de austeridade. Contudo, os players aceitaram as decisões do respectivo governo e assumiram um espírito de união. Como resultado, vemos a recuperação económica, aliás a uma velocidade maior do que a esperada.

Em Portugal é ao contrário. Por isso, infelizmente, caminhamos muito mais para nos aproximarmos da Grécia do que evoluímos para uma situação semelhante à irlandesa. Observe-se o caso das pensões de sobrevivência: é natural um viúvo ou viúva com uma pensão própria de mil, dois mil euros ou mais e receber outro tanto porque a esposa ou o marido faleceram? Que não se corte nas pensões de viuvez abaixo dos 600 euros estou totalmente de acordo. Agora acima?

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:07

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