Por muito que nos tentem atirar areia para os olhos, não é verdade que saímos da crise. Quanto muito pode ser pós-verdade, como a agora é hábito designar. E continuando em crise, e profunda, nunca se disse tanto em vão, nem tão vazio de sentido. A reforma do Estado, só para citar um exemplo, arrasta-se na agenda política, sucedendo-se conferências, debates televisivos, artigos de imprensa, etc., mas sem se avançar um milímetro que seja.
Subitamente, parece ter-se apagado da memória colectiva que a tutela da administração pública sempre integrou a orgânica do governo, que o crescendo da sua importância a fez passar de direcção-geral a secretaria de Estado e até a ministério. Criara-se comissões, publicaram-se leis e o certo é que pouco ou nada foi feito.
E, contudo, a resolução de pelo menos alguns dos problemas até nem é difícil. Definir, com a maior precisão possível e sem derivas ideológicas, as funções da administração central, regional e local, bem como separar a administração directa da indirecta; estruturar as respectivas organizações; seleccionar as pessoas competentes aos vários níveis - avaliando-as constantemente e de modo assertivo - e exercendo plenamente as competências segundo critérios de meritocracia. Ah, não esquecer de actualizar em permanência todos os passos anteriores. Tanto basta. Ou melhor: basta que neste processo não prevaleçam os critérios políticos, sem esquecer a prevenção e, sobretudo, a punição da corrupção.
O que agora aqui escrevo, verdadeiramente não é uma reforma do Estado, nem era isso que se pretendia. Porém, que é uma pretensa forma de reduzir a factura salarial da função pública não tenho a menor dúvida.