Um estudo, ontem divulgado, dá a Portugal duas apreciações distintas. Dos milhares de inquiridos em todo o mundo, o nosso país é dos que mais confiam nas organizações não-governamentais e, por outro lado, é de todos o que menos acredita no seu governo. A título meramente exemplificativo diga-se que apenas 9% dos portugueses confiam no governo, enquanto os nossos vizinhos espanhóis apresentam um grau de confiança de 43% e a média da União Europeia ronda os 46%.
Bem, em abono da verdade, não estranhamos tais resultados. Os sucessivos governos e principalmente este, através do uso constante de políticas subservientes dos proveitos dos seus apaniguados, afastando-se quase por completo dos genuínos interesses do país, têm originado tão elevado mal-estar entre os cidadãos, levando-os a desinteressarem-se pela res publica e, fundamentalmente, a perderem a confiança.
A falta de confiança no presente e, essencialmente, no futuro é bem patente na letra da canção “Parva que eu sou”, editada pelos Deolinda, a qual, aliás, não é por acaso um enorme sucesso, e que a seguir transcrevo:
Sou da geração sem remuneração
E não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar,
Já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar.
Sou da geração “casinha dos pais”,
Se já tenho tudo, p’ra quê querer mais?
Que parva que eu sou!
Filhos, marido, estou sempre a adiar
E ainda me falta o carro pagar,
Que parva que eu sou!
E fico a pensar
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar.
Sou da geração “vou queixar-me p’ra quê?”
Há alguém bem pior do que eu na TV.
Que parva que eu sou!
Sou da geração “eu já não posso mais!”
Que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou!
E fico a pensar,
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar.
Acresce que a ausência de confiança não se confina ao governo, uma vez que se estende a todas as estruturas e instituições que dependem ou não da administração central, incluindo a regional e local. Ouçam as pessoas nos seus locais de trabalho, nos cafés, nas conversas de rua, e logo hão-de constatar como elas não acreditam nas chefias/direcções por muito que estas, pretensamente, se digam ou estejam próximas.
E se existe algo que corrói fortemente uma sociedade é a desconfiança. Como bem sabemos, a confiança é baseada no conhecimento que se tem de alguém. Quanto mais informações sobre quem necessitamos confiar, melhor formamos um conceito positivo da pessoa e/ou organização. O grau de confiança entre pessoas e/ou organizações é determinado pela capacidade que elas têm de prever os comportamentos umas das outras. Tem como base experiências passadas que corroboram um padrão esperado, valores compartilhados, percebidos e tido como compatíveis.
Ora, o que diariamente observamos é exactamente o oposto. Infelizmente.