Ouvi ontem, à semelhança de muitos outros, o primeiro-ministro, na sua comunicação ao país, discorrer sobre mais uma catástrofe que se abateu sobre este rectângulo à beira-mar plantado neste último fim-de-semana.
Palavras, palavras e mais palavras. Muitas até dizer chega. Comunicação cheia de promessas até dizer basta. Zero de responsabilização e muito menos em termos de sentido de Estado.
Pelo menos até agora, não existe qualquer assunção de responsabilidade política. Afinal, tudo se deveu a ondas de calor, imponderáveis da natureza, seca extrema, bem como outros adjectivos similares.
A demissão da ministra da Administração Interna não resolvia o assunto? De todo não. Mas, pelo menos, havia alguém com espinha dorsal que assumisse o encargo político. Aliás, por muito menos, se demitiu Jorge Coelho, aquando da queda da ponte de Entre-os-Rios, apesar de todos sabermos que não foi ele o culpado técnico e/ou prático por tal desastre.
As contingências do clima não podem ser a fuga e a desculpa para todos os fogos, assim como a não estruturação da floresta, a qual tem décadas de atraso. Por falar nisto, corre pelas redes sociais, com bastante insistência, a ideia peregrina e desculpabilizante de que a desgraça que nos assolou neste Verão é culpa de todos os governos pós-25 de Abril. Com este e outros argumentos análogos, um dia destes ainda vão culpar o Afonso Henriques.
Para este governo e seus correligionários geringonciais tudo o que é bom é da sua inteira lavra. Algo de mau é culpa dos governos anteriores, principalmente do último, ou, então, é fruto das circunstâncias.