Existem tempos para nos perdermos, tal como existem outros para nos encontramos. Este é um em que, por mais tentadoras que sejam as sugestões mundanas, as características do dever, do despojamento e consequente doação devem prevalecer e, sobretudo, deixar marcas indeléveis.
Bem sabemos que existem sempre solução abertas, que é como quem diz “tipo fato à medida do freguês”. E sendo certo que continuamos a possuir o poder de escolher e, fundamentalmente, de fazermos as mudanças que entendermos, também não é menos verdade que o empenho e a qualidade, que obrigatoriamente devemos imprimir à realidade do nosso quotidiano, não dispensam a demanda de novos modos e, acima de tudo, o percorrer de trajectos de inovação que levem à construção do Homem Novo.
Quaresma! Tempo de meditação no exemplo de Jesus Cristo. Este tempo, o qual não é compatível com todas as condições e dimensões em que o homem é pródigo e que possui especificidades muito próprias, é apropriado à renúncia.
É, pois, com este propósito que, até à Páscoa, tão regularmente quanto me for possível, aqui colocarei algumas passagens do Novo Testamento, tentando, com as mesmas, fazer a ponte com o que sucede no dia-a-dia.
LUCAS 11: “Ai de vós, fariseus, que amais os primeiros assentos nas sinagogas, e as saudações nas praças. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, que sois como as sepulturas que não aparecem, e os homens que sobre elas andam não o sabem. E, respondendo um dos doutores da lei, disse-lhe: Mestre, quando dizes isso, também nos afrontas a nós. E ele lhe disse: Ai de vós também, doutores da lei, que carregais os homens com cargas difíceis de transportar, e vós mesmos nem ainda com um dos vossos dedos tocais essas cargas” (negrito meu).
Estas santas e sábias palavras trazem-me à memória as muitas e diversificadas situações que ocorrem no nosso país, umas mais distante, outras mais próximas. Recordo, por exemplo, a questão das actas – principalmente no que concerne à pseudo-correcção -, assim como os inúmeros documentos que nos obrigam desnecessariamente e incompreensivelmente a preencher, como é caso paradigmático as fichas-relatório sobre as NAC. É que, sobre estes dois casos, entre muitos outros que poderia citar, pode-se dizer, sem receio de ser desmentido, que, relativamente aos infaustos autores, também eles nunca suportaram aquilo que obrigam os outros a carregar.
Já agora, e ainda no que concerne a esta papelada, que tanta celeuma tem dado, aposto que ninguém terá coragem de levar tal assunto ao Conselho Pedagógico, apesar de alguns dos seus membros em reuniões mais restritas se terem manifestado veementemente contra.
Contradições incompreensíveis? Talvez não!