O Outono tem destas coisas. Ao mesmo tempo que, de certo modo, adormece a natureza, dá-nos, por vezes, também um estado de modorra, i.e., uma situação de meio acordado, meio adormecido. Quem neste tempo, em que o frio ainda não aperta, mas a chuva é copiosa e persistente, não se sentou no sofá, a ler (preferencialmente), a ver TV ou a realizar outra tarefa relaxante, e acabou a dormir a meio da tarde? Sabe muito bem e é absolutamente necessária.
Hoje foi um dia desses. Depois de um almoço oferecido pelo meu irmão – regressa dentro de dias aos USA – na “Cabana do Pastor”, composto por um soberbo arroz de línguas de bacalhau, seguido de uns negalhos – há dezenas de anos que não provava tal iguaria -, acompanhados de batata assada e grelos de nabos passados muito ligeiramente por alho e azeite na sertã, tudo regado com um belo vinho tinto caseiro, onde a velhice com odor a carvalho, onde deve ter estagiado, se notava, o tempo obrigou-me a formosentar em casa o resto da tarde.
O codorno durou cerca de uma hora, mas foi extraordinariamente retemperador. Para quem durante tantos e tantos dias, aguentando os horrores de sóis tórridos, mal tendo tempo para comer uma bocada ao almoço, soube muito bem esta oportunidade.