Por muito que se diga que o 25 de Abril não tem donos, manda a verdade dizer que algumas pessoas, embora poucas, pensam exactamente o contrário. Tal como alguns “bem pensantes” são de opinião de que a preocupação com a justiça social é primórdio absoluto da esquerda, igualmente outras tudo fazem para dar a entender que o 25 de Abril é fruto único de alguém que era ou gravitacionava em redor do PCP.
E isto não é nenhuma invenção, uma vez que a prática demonstra-o. Quando olhamos, no átrio de entrada de uma escola, um cartaz feito a propósito da comemoração do 40º aniversário dos cravos e damos de caras com as figuras aí representadas – Ari dos Santos, Zeca Afonso, Álvaro Cunhal e Salgueiro Maia -, os quais com excepção deste último que jamais se deixou instrumentalizar, todos apregoavam não a democracia democrática, pluralista, respeitadora do Estado do direito, mas sim a designada democracia popular, pela qual tanto lutaram e que não fora o 25 de Novembro de 1975 – um autêntico segundo 25 de Abril – teríamos sido o satélite mais ocidental da ex-União Soviética. Naquele cartaz, marcadamente ideológico, só falta esse excelso lutador da classe trabalhadora, pugnador da união de todos os operários e camponeses – leia-se proletários - que foi Vasco Gonçalves e a legenda “Força, força companheiro Vasco, nós seremos a muralha de aço”.
É, deste modo, que se ideologiza a juventude, num determinado sentido, é claro.
Onde estão as referências a Mário Soares, Salgado Zenha, Sá Carneiro, Melo Antunes, Marques Júnior, Spínola, Ramalho Eanes e tantos outros, estes, sim, verdadeiros lutadores por uma democracia sem medo, onde em bom rigor, hoje-em-dia, pode não haver pão para todos, mas existe efectiva paz e liberdade?
E se não existe comida na mesa de todos os portugueses, muito se fica a dever aos desvarios de uma certa esquerda que, sem um pingo de vergonha na cara, achou e continua a achar que devemos continuar a gastar mais do que aquilo que produzimos. Isto, de modo algum, desculpa alguma direita, trauliteira e populista, cuja fuga de capitais é algo que acham perfeitamente normal promover.