Ninguém tem dúvidas. Coisas existem que a maioria dos portugueses adora. Sem intenções de pontuação há exemplos paradigmáticos: fuga aos impostos/taxas, gabarem-se do que não são ou de algo que jamais imaginaram fazer, queixarem-se, na grande maioria dos casos sem razão, da falta de dinheiro e excesso de trabalho, faltar ao trabalhar sem motivo, e, acima de tudo, “furar” uma fila de gente, i.e., fazendo de todos os outros autênticos totós. Este último, sem sombra para dúvidas, dá-lhe um gozo bem acima da média, algo extraordinário, talvez só comparado a um extremo orgasmo.
Escrevo estas palavras por algo concreto. Anteontem fui, ao lagar da Pena (Cantanhede), fazer o azeite proveniente da azeitona que durante as duas/três semanas anteriores apanhei. Aliás, como todos sabem alguns dias debaixo de chuva, pois não houve alternativa. A entrega estava marcada para as 15h00, pelo que, previdente, cheguei cerca de uma hora antes. Logo após a chegada avisaram-me que havia um atraso à volta de três horas, sem mais explicações, por muito que tenham sido solicitadas. Indagados sobre quem estava à minha frente, responderam-me que a lista não era pública. Logo entendi, e, com toda a certeza, os meus caros leitores também, do porquê. Espero, espero e desespero! Entretanto, eu e muitos outros - muito dos quais falam imenso pela calada, mas à frente encolhem o rabo – começamos a verificar que pessoas chegadas recentemente despejavam a sua azeitona e iam à sua vida com um largo sorriso. Recordem-se das palavras introdutórias deste texto!
Passam-se as aludidas três horas e mais outras e – bem me conhecem – expludo. Digo tudo o que me vai na alma! Alguns ainda me acompanham na justa queixa. Todavia, a maioria cala-se. Resultado, a minha azeitona, das melhores que naquele lagar entrou, se é certo que não rendeu mal, ao que me disseram muitos outros, foi menos que das deles.
Eram mais ou menos 22h00 quando saio do lagar. Chovia que Deus a dava. Em cima do tractor lá fiz o caminho até casa, com o lamento de não ter levado óculos com limpa pára-brisas. Caramba, em determinada altura, não via a ponto dum c… Guiava-me apenas pela lista branca lateral da estrada. Quase à meia-noite entro em casa. Sem comer, limito-me a tomar banho e dormir.