Dizer que a política, ou melhor, a imagem dos políticos anda pelas ruas da amargura é chover no molhado, uma vez que, por demais que seja negado, é verdade. Não é de agora, mas que se tem acentuado nos últimos anos é uma realidade. Que não é exclusivo de Portugal não é mentira e para isso veja-se, apenas a título de exemplo, o(s) caso(s) do(s) presidente(s) franceses.
É evidente que eles se colocam muito a jeito para assim serem horrivelmente classificados. O último debate entre Catarina Martins, uma das cabeças (bicéfalas) do BE, e o PM, ocorrido nesta última sexta-feira em pleno Parlamento, em que aquela diz, cara a cara, que a palavra de Passos Coelho não vale nada espelha bem o andar da carruagem. A não-resposta deste último não podia ser outra, a não ser que fosse para trocarem galhardetes, afundando ainda mais o falso debate na casa-mãe da democracia, se é que isso é possível.
Todavia, não são apenas os políticos a avacalhar a política. Observe-se o que aconteceu no Tribunal da Relação de Guimarães, o qual ilibou um homem que tinha sido condenado na primeira instância por um crime de injúria agravado, por ter chamado "palhaços" aos membros da Junta de Freguesia de Silvares, daquele concelho.
O tribunal deu como provado que, no dia dos factos, houve um conflito entre a Junta e o Centro Social, no decorrer do qual o arguido, dirigindo-se ao presidente da Junta, proferiu a expressão "vocês são uns palhaços, não sei como o povo vos escolheu".
O arguido recorreu e a Relação, por acórdão que a Lusa hoje consultou, absolveu-o, considerando que aquela expressão "não excede a grosseria nem a falta de educação", tratando-se "de um mero juízo de valor que não tem aptidão para atingir a honra e consideração do visado".
O acórdão refere ainda que palavra "palhaço" é polissémica e, quando isso acontece, o tribunal "não tem de acolher o significado atribuído pelo visado tão-só por se ter considerado ofendido".
Mais palavras? Para quê? É o Estado português no seu melhor!