Ontem, o país, de certo modo, enamorado de Marcelo Rebelo de Sousa (MRS), assistiu à sua entronização como Presidente da República. Muitas aclamações foram feitas, muitos encómios foram produzidos, muita charlatanice foi dita, sobretudo por parte dos jornalistas que ao longo do dia cobriram exaustivamente a cerimónia, e muitas esperanças foram erguidas. Enfim, mais parecia uma coroação que uma tomada de posse de um presidente de uma república laica e multipartidária. E como tudo o que é demais …
Apoiante de MRS desde a primeira hora, ao contrário dos recentes e oportunisticamente convertidos, não levanto as mãos aos Céus à espera de um milagre. Com os pés bem assentes na terra, de uma forma pragmática, apenas espero que seja fiel aos seus desígnios. Para quem pouco espera, tudo o que vier a mais é óptimo. Governar em estado de graça é fácil. O difícil há-de chegar e será nessa altura que se verá a fibra do agora empossado.
A sua bonomia, a sua constante boa disposição, o seu ar familiar e terno são óptimos para afagar o nosso ego. Todavia, todos sabemos que, por muito que as crispações políticas se atenuem, isso não coloca pão na mesa dos portugueses.
Os que hoje lhe sorriem prazenteiramente, bem o sabemos, serão os primeiros a espetar-lhe a faca na primeira oportunidade.
Uma palavra para Aníbal Cavaco Silva. Sou daqueles que também afirma que podia ter acabado a sua carreira política de uma forma menos sofrível. Contudo, por experiência própria, sei que “atrás de mim virá quem bem de mim dirá”. Ditado muito antigo, mas muito certeiro. É ainda muito cedo para julgamentos históricos e, por isso, há que deixar que o tempo consolide a sua memória. Então, quando o distanciamento o permitir, escreva-se o que por bem se entender. Uma coisa é certa: poucos políticos portugueses se podem orgulhar de ter marcado na nossa história contemporânea tal como ele o fez.