É muito habitual, hoje-em-dia, ouvir perorar-se aos quatro ventos sobre a falta de autoridade sentida na escola, da qual os professores tanto se queixam. Todos têm opinião, desde o gato ao periquito, todos emitem juízos de valor, sendo a mais comum a que é assacada à educação, ou melhor, à falta dela, que os pais exercem junto dos seus rebentos.
Todavia, desengane-se quem pense que o problema é de hoje. Já em 10.10.2006, numa entrevista dada por Daniel Sampaio ao suplemento Educação do JL, se podia ler: “Na minha geração, os pais eram bastante autoritários, impondo demasiados limites. A partir dos anos 80, as gerações aproximaram-se muito. O generation gap (intervalo de gerações) estreitou-se e há muita camaradagem entre pais e filhos, o que é muito bom em múltiplos aspectos. Mas há um contra: a dificuldade de estabelecer limites e regras, comum em pais que têm hoje 30 anos. A pior consequência é a de termos crianças que são muito exigentes. Comandam a vida familiar, determinam a hora de deitar e invadem a vida dos pais e dos amigos dos pais. O que vai ter consequências na adolescência. Quando têm 15 e 16 anos são fisicamente poderosos e podem tornar-se agressivos com os próprios pais.”
Mais à frente afirmava: “em relação aos professores passa-se o mesmo. E neste momento há um problema de autoridade. Mas é preciso ter cuidado porque há muita gente a dizer que é preciso regressar aos pais e professores autoritários. Não concordo.”
Agora, caríssimos leitores, passados que são quase dezanove anos, digam se não há razão quando comumente se afirma “fica-te mundo cada vez pior”.