Os mais atentos sabem muito bem do porquê de António Costa, desde que o Syrisa tomou o poder na Grécia e, sobretudo, nos últimos meses, apelar constantemente para que o governo português não se constitua como obstáculo a um acordo para resolver a gravíssima situação económica-financeira naquele país, mas sim que contribua para a solução.
Ora, como a solução, de acordo com o governo grego e, principalmente, tendo em conta o mandato que recentemente recebeu por via do referendo, passa pelo fim da austeridade, o que, na prática, consubstancia senão um perdão da maior parte da dívida, pelo menos o reescalonamento da mesma.
Assim, caso esta solução vá adiante, os socialistas - e não só – viriam de imediato reclamar contra as medidas de austeridade imposta por Pedro Passos Coelho nos últimos anos, afirmando que se este tivesse a mesma atitude de Tsipras os portugueses teriam vivido estes quatro anos regalados e sem preocupações. Relembro o que disse esse grande político, agora reduzido à cela 44 da Prisão de Évora: “é estupidez pensar que a dívida dos estados se paga. Esta apenas se deve gerir”.
Como é óbvio, o actual governo, pelo contrário, anseia pela derrocada total da Grécia - e já agora a maioria dos portugueses -, por muito que diga o contrário, já que apenas deste modo pensa conseguir convencer que as duras provas que obrigou o povo português a passar tiveram sentido.
Uma coisa é certa: estamos numa situação muito diferente da Grécia e isso é excelente. Já imaginaram a vidinha que levaríamos com os nossos bancos fechados há tantos dias?