Como é do conhecimento geral, por dever de ofício, contacto diariamente com muitos adolescentes e jovens, ultimamente mais estes, a maioria já eleitores e, por isso, com direito a escolher os desígnios deste país. Porém, no quotidiano, agem como se não fossem o futuro desta nação com oito séculos de existência.
E, dia-a-dia, vou-me admirando, ou melhor, estranhando as atitudes destes jovens, muitos deles já homens de barba. A infantilidade, a não-aceitação do não, o achar que tudo, inclusive as aulas, não passa de prolongamento do recreio e/ou de café, bem como a despreocupação com o vindoiro são modos de ser e estar diários.
Por outro lado, a falta quase absoluta das regras mais básicas de educação, as quais, obrigatoriamente devem ser provenientes de casa, é assustador Sim, porque o docente deve imperiosamente estar numa função de ensino e apenas residualmente no âmbito de educador.
Enquanto a sociedade, essencialmente os pais, os avós e a restante família, não apreenderem que é muito mais relevante, na educação dos seus descentes, o “não” do que o “sim”, ainda que este seja mais fácil e dê menos fadiga, pouco a escola poderá fazer e mais paupérrimo será o porvir dos nossos filhos e, consequentemente, do país.
A ilustrar o anteriormente dito veja-se, por muito caricato e pouco curial que seja, o seguinte exemplo: é perfeitamente natural os jovens, mercê da sua actividade física, isto para não falar de outros hábitos bem menos saudáveis, terem o costume de beber muita água. Até aqui tudo bem. Aliás, é uma atitude saudável e de louvar. Onde a “porca torce o rabo” é que tipo de água bebem. Enquanto este vosso escriba, face à média de ordenados pagos neste país, considera, mensalmente, auferir uma quantia razoável, bebe água da torneia, i.e., proveniente da rede pública, e, por isso, com garantias de origem e tratamento assegurado, a grande maioria dos encarregados de educação dos nossos alunos possui rendimentos muito baixos, nalguns casos até inexistentes, mas os seus educandos recusam-se a beber daquela e, insistentemente, compram água engarrafada.
E já não falo da recusa em almoçarem na cantina, com o velho e estafado argumento de que a comida não presta, comendo geralmente sandes e bolos no bar ou nos cafés das redondezas. Saliente-se que alguns têm direito a almoço grátis e, mesmo assim, não colocam os pés no refeitório. Sinceramente, muitas vezes, interrogo-me sobre a proveniência de tanto dinheiro, quando, muitas vezes, argumentam que não o possuem para adquirir um simples caderno diário.