Ano após ano volto à Praia-de-Mira. Não há ano que não o faça. Um ano são mais dias, outro menos, mas sempre, sempre, é visita obrigatória. É, sem margem para dúvidas, a minha praia e hoje, mais uma vez, cumpri, num dia maravilhoso, este desiderato.
Perdem-se os anos em que pela primeira vez coloquei os pés naquele extenso e belo areal. Recordo-me, ainda garoto, talvez com cinco ou seis anos, quando os meus pais começaram a levar-nos – a mim e aos meus irmãos – para a praia. Sim, naquela altura dizíamos apenas praia, sem necessidade de localização geográfica, pois tal significava única e simplesmente Praia-de-Mira. Arrendavam uma casa na última quinzena de Agosto, época que antecedia as colheitas, uma vez que, naqueles tempos, os alugueres eram por quinze dias. Ao mês era apenas para as famílias muito abastadas.
Rememoro com nostalgia – eventual sinal de senioridade precoce – daqueles tempos em que esta praia era muito diferente do que é hoje e mais díspar era a Barrinha, um lago de água doce adjacente e que tanto ajudou a caracterizar aquela. Vinha a família toda, em carro alugado, trazendo tudo e mais alguma coisa. Apenas adquiríamos peixe e uma ou outra guloseima, uma vez o dinheiro ser escassíssimo. O meu pai, entretanto, retornava a casa ao fim do dia, pois a agricultura e sobretudo os animais domésticos necessitavam de alguém. Visitava-nos ao domingo, sabendo, de antemão, que este dia era de grande alegria, não só por a família estar toda reunida, mas também por aquilo que trazia. A melhor galinha – sim, não é como hoje em que frango é o pão-nosso de cada dia – era saboreada de forma suculenta nesse dia, sem esquecer tudo o que horta dava e que do mesmo modo nos chegava ao prato.
(Continua)