Sim, bem sei que alguns dos meus leitores acham os meus actuais textos demasiado naif’s e adorariam que voltasse aos tempos em que a filosofia, a erudição e, sobretudo, uma escrita só ao alcance de alguns, imperava nos mesmos. Tenho pena, mas esses tempos já lá vão. Hoje, é mais chão-a-chão, local, onde, aliás, diariamente sujo as mãos.
Nessa senda aqui vai uma dessas estórias. Lamentável, mas verdadeira.
Por alturas de Abril p.p., uma vez que tinha parte do quintal por semear e não a querendo deixar em pousio, resolvi adquirir semente de feijão rasteiro vermelho. Comprei três litros tendo pago nove euros. Chegado a casa pesei e tal rondou 2,7 kg, i.e., cada litro não chegou a um quilo.
Após ter lavrado o terreno, fresado e aberto os respectivos regos, colocado estrume e adubo, semeei as aludidas leguminosas. Chegada a altura certa a mesma foi novamente adubada e sachada. Como é lógico as mesmas foram regadas e nos finais de Julho, inícios de Agosto foram, já em estado seco, apanhadas e colocadas na eira. Malhadas e ventiladas, obtive à volta de 50 kg.
Até aqui nada de novo. A questão levanta-se quando pretendi vender as ditas gramíneas. Ao comerciante, a quem há cinco meses tinha comprado, ofereceu-me agora um euro por quilo. E quando lhe chamei a atenção para tal ignomínia respondeu-me com a maior desfaçatez: “olhe, é a vida”.