Conheço muito bem Vagos, tanto mais que a minha avó paterna era daquele concelho. Terra pacata, cheia de gente valorosa, misto de agricultores e pescadores. Simultaneamente, terra muito afeiçoada a certos rituais e tradicionalismos que, segundo parece, já não são de agora. Infelizmente para uns, felizmente para outros. Sinais dos tempos!
Gente que sempre votou à direita e, por isso, não é por acaso que esta polémica se instala. Por mão de quem? Do Bloco de Esquerda (BE), claro está. Não possui qualquer representatividade junto daquela, mas, ao menor sinal, ei-los que saltam para a ribalta como primeiros defensores, não dos bons costumes – seja lá o que cada um entender por tal -, mas sim de uma progressividade que há milénios fez cair Roma e o mesmo há-de acontecer connosco agora.
O caso conta-se em meia-dúzia de palavras. Duas alunas da Secundária de Vagos, onde também estudam discentes desde o sétimo ano, ou seja, com doze ou treze anos, beijaram-se prolongadamente no recreio, provocando a indignação de alguns dos presentes. Vai daí a direcção da Escola chamou as aludidas intervenientes e disse-lhes que tal conduta não era a mais apropriada àquele local.
Como está bem de se ver, mal o BE teve conhecimento do caso logo o empolou e “toca” de chamar a comunicação social, a qual, como todos bem sabemos, se pela por qualquer caso de lana caprina, independentemente do sentir da esmagadora maioria dos vaguenses. Isto faz lembrar outros tempos em que não se podia dizer o que quer que fosse a um negro pois era, de imediato, apelidado de racista. No fundo, no fundo, o que se pretende é uma escola com todos e mais alguns direitos e sem, repito, sem deveres de qualquer espécie.
O caldo, como é óbvio, entornou-se e a direcção vê-se em palpos de aranha para explicar um caso cuja importância, senão é nula, é extremamente reduzida. Uma coisa é certa: não invejo o actual papel do Hugo Martinho. Já por lá passei e sei o quanto é fácil, para os “profissionais” do costume, fazer a maior tempestade num simples copo de água. Uma achega à questão: sempre fui contra as manifestações de afecto mais íntimo no interior do espaço escolar, independentemente da orientação sexual. E penso que é aqui que bate o cerne da questão.
Entretanto, o Ministério da Educação (ME) afirmou que “repudia actos de discriminação e vai agir no sentido de apurar o que aconteceu naquela Escola. O ME teve, esta quarta-feira, conhecimento do referido caso, pelo que vai agir no sentido do apuramento dos alegados factos”.
Em declarações ao Jornal de Notícias, o director da Escola, Hugo Martinho, explicou que “não houve qualquer repreensão ou crítica à orientação sexual das alunas”, mas que lhes pediu “alguma contenção”. Um elemento da direcção falou com uma das alunas, num local reservado, pedindo alguma moderação, no sentido de as proteger”, disse Hugo Martinho.